Portugal dá último adeus a Saramago
AFP - ontem Os restos mortais do escritor português José Saramago, que morreu nesta sexta-feira, aos 87 anos, na ilha espanhola de Lanzarote, chegaram neste sábado a Portugal, onde foi decretado luto oficial de dois dias em homenagem ao prêmio Nobel de Literatura.Ler mais em: http://br.noticias.yahoo.com/s/afp/portugal_espanha_literatura_mortePrêmios | Nobel de Literatura (1998) |
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Publico o artigo de José Saramago, escritor Português, prêmio Nobel
em Literatura, que de forma
brilhante escreveu sobre O FATOR DEUS na folha de São Paulo em
19/09/2001.Esse é um dos artigos que considero mais brilhante do
escritor português, dele lí O Evangelho Segundo Jesus Cristo, um romance
com uma critica severa sobre a vida de José, Maria e Jesus analisado
pela visão ateísta do autor, mas prefiro o fator Deus para homenagear
este excelente Ateu que tão fervorosamente dedicou sua vida a combater a
religião católica que tinha como inimiga número um. Uma das influência
para seu ateísmo vem das afirmações de Karl Marx o qual também teve
grande contribuição para minha visão ateísta do mundo.
O seu mais recente trabalho foi livro Ensaio Sobre a Cegueira, a obra se tornou uma das mais famosas de seu autor, juntamente com Todos os nomes, Memorial do Convento e O Evangelho segundo Jesus Cristo.Ensaio Sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema elançado em 2008, produzido no Japão, Brasil e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha. Aos olhos de Saramago o livro Ensaio Sobre aCegueira: "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que épreciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."
O seu mais recente trabalho foi livro Ensaio Sobre a Cegueira, a obra se tornou uma das mais famosas de seu autor, juntamente com Todos os nomes, Memorial do Convento e O Evangelho segundo Jesus Cristo.Ensaio Sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema elançado em 2008, produzido no Japão, Brasil e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha. Aos olhos de Saramago o livro Ensaio Sobre aCegueira: "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que épreciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."
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O FATOR DEUS DE JOSÉ SARAMAGO
Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia
em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro
plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem
de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a
mais obtusa das imaginações poderão "ver" cabeças e troncos dispersos
pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados.
Os homens eram rebeldes. Algures em Angola. Dois soldados portugueses
levantam pelos braços um negro que talvez não esteja morto, outro
soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do
corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma
segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os
soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto
alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar
parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado
pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois
aviões comerciais norte-americanos, seqüestrados por terroristas
relacionados com o integrismo islâmico lançam-se contra as torres do
World Trade Center e deitam-nas abaixo. Pelo mesmo processo um terceiro
avião causa danos enormes no edifício do Pentágono, sede do poder
bélico dos States. Os mortos, soterrados nos escombros, reduzidos a
migalhas, volatilizados, contam-se por milhares. As fotografias da
Índia, de Angola e de Israel atiram-nos com o horror à cara, as vítimas são-nos mostradas no próprio instante da tortura, da agônica
expectativa, da morte ignóbil. Em Nova York tudo pareceu irreal ao
princípio, episódio repetido e sem novidade de mais uma catástrofe
cinematográfica, realmente empolgante pelo grau de ilusão conseguido
pelo engenheiro de efeitos especiais, mais limpo de estertores, de
jorros de sangue, de carnes esmagadas, de ossos triturados, de merda. O
horror, agachado como um animal imundo, esperou que saíssemos da
estupefação para nos saltar à garganta. O horror disse pela primeira vez
"aqui estou" quando aquelas pessoas saltaram para o vazio como se
tivessem acabado de escolher uma morte que fosse sua. Agora o horror
aparecerá a cada instante ao remover-se uma pedra, um pedaço de parede,
uma chapa de alumínio retorcida, e será uma cabeça irreconhecível, um
braço, uma perna, um abdômen desfeito, um tórax espalmado. Mas até mesmo
isto é repetitivo e monótono, de certo modo já conhecido pelas imagens
que nos chegaram daquele Ruanda-de-um-milhão-de-mortos, daquele Vietnã
cozido a napalme, daquelas execuções em estádios cheios de gente, daqueles linchamentos e espancamentos daqueles soldados iraquianos
sepultados vivos debaixo de toneladas de areia, daquelas bombas atômicas
que arrasaram e calcinaram Hiroshima e Nagasaki, daqueles crematórios nazistas a vomitar cinzas, daqueles caminhões a despejar cadáveres como
se de lixo se tratasse. De algo sempre haveremos de morrer, mas já se
perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres
humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais
absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o
princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem exceção, nunca
serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário,
foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de
morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que
constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história
humana. Ao menos em sinal de respeito pela vida, devíamos ter a coragem
de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade evidente e
demonstrável, mas a maioria dos crentes de qualquer religião não sófingem ignorá-lo, como se levantam iracundos e intolerantes contra
aqueles para quem Deus não é mais que um nome, o nome que, por medo de
morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma
humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com
infernos, tão falsos uns como os outros, insultos descarados a uma
inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deu a criar.
Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os talebanes, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactuado entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.
Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os talebanes, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactuado entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.
E, contudo, Deus está inocente. Inocente como algo
que não existe que não existiu nem existirá nunca, inocente de haver
criado um universo inteiro para colocar nele seres capazes de cometer os
maiores crimes para logo virem justificar-se dizendo que são
celebrações do seu poder e da sua glória, enquanto os mortos se vão
acumulando, estes das torres gêmeas de Nova York, e todos os outros que,
em nome de um Deus tornado assassino pela vontade e pela ação dos
homens, cobriu e teimam em cobrir de terror e sangue as páginas da
história. Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou
definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o "fator deus",
esse, está presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor
dela. Não é um Deus, mas o "fator Deus" o que se exibe nas notas de
dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados
Unidos, e não a outra...) a bênção divina. E foi no "fator Deus" em que o
Deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World
Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança
contra as humilhações. Dir-se-á que um Deus andou a semear ventos e que
outro Deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo.
Mas não foram eles, pobres Deuses sem culpa, foi o "fator Deus", esse
que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que
estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem
intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais
sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que
depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do
homem uma besta.
Ao leitor crente (de qualquer crença...) que tenha
conseguido suportar a repugnância que estas palavras provavelmente lhe
inspiraram, não peço que se passe ao ateísmo de quem as escreveu.
Simplesmente lhe rogo que compreenda, pelo sentimento de não poder ser
pela razão, que, se há Deus, há só um Deus, e que, na sua relação com
ele, o que menos importa é o nome que lhe ensinaram a dar. E que
desconfie do "fator Deus". Não faltam ao espírito humano inimigos, mas
esse é um dos mais pertinazes e corrosivos. Como ficou demonstrado
edesgraçadamente continuará a demonstrar-se.
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Nota de WilliamPereira:
Silêncio, meditação, reflexão, é tudo
isso que devemos fazer ao terminar de ler um comentário desta natureza,
realmente analisar este "Fator Deus" tão louvado e seguido por centenas,
milhares, milhões de pessoas em todo o mundo sem uma critica, sem se
voltar realmente a quem serve estas religiões ou Deus. Como gostaria que
essas centenas, milhares, milhões de pessoas pudessem ler e refletir
sobre este e outros tantos assuntos que os ateus na sua angustia, na sua
ânsia de tirar essas pessoas desse engodo, dessa enganação, dessa
degradação humana que se chama Religião e utilização do nome Deus para
denegrir a raça humana se lança nesta luta desigual e desumana. Talvez
quem saiba se deixasse seguirmos nossos passos como fizeram diversas
civilizações primitivas a humanidade encontrasse seu caminho com mais
harmonia e paz. Não creio que exista só um caminho para a humanidade,
para as pessoas, devemos e podemos criar outros caminhos que nos levem
para uma razão mais lógica e racional e não tenhamos de enfrentar tanta
desgraça edestruição para satisfazer a loucura dos governantes e
daqueles que detém o poder econômico mundial e sabemos que são eles que
mais utilizam a religião para manter seus domínios e riquezas e para
isso não tem piedade nem rancor de lançar milhões de seres humanos em
guerras fratricidas utilizando o nome de Deus, a ignorância, a fé e a
inocência dos muitos inocentes deste mundo. A história é prova
inconteste de tudo isso.
Leia mais em http://deusdeuseseateus.blogspot.com/2008/07/captulo-8.html
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