domingo, junho 20, 2010

HOMENAGEM A JOSÉ SARAMAGO O GRANDE ATEU DA NOSSA CONTEMPORANEIDADE (1922-2010)

Portugal dá último adeus a Saramago

AFP - ontem Os restos mortais do escritor português José Saramago, que morreu nesta sexta-feira, aos 87 anos, na ilha espanhola de Lanzarote, chegaram neste sábado a Portugal, onde foi decretado luto oficial de dois dias em homenagem ao prêmio Nobel de Literatura.Ler mais em: http://br.noticias.yahoo.com/s/afp/portugal_espanha_literatura_morte

José Saramago
Faleceu José de Sousa Saramago (Azinhaga, Golegã, 16 de Novembro de 1922 — Lanzarote, 18 de Junho2010) foi um escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta
português. Ateu convicto.

Prêmios Medalha do prêmio Nobel Nobel de Literatura (1998)
Página oficial:

Publico o artigo de José Saramago, escritor Português, prêmio Nobel em Literatura, que de forma brilhante escreveu sobre O FATOR DEUS na folha de São Paulo em 19/09/2001.Esse é um dos artigos que considero mais brilhante do escritor português, dele lí O Evangelho Segundo Jesus Cristo, um romance com uma critica severa sobre a vida de José, Maria e Jesus analisado pela visão ateísta do autor, mas prefiro o fator Deus para homenagear este excelente Ateu que tão fervorosamente dedicou sua vida a combater a religião católica que tinha como inimiga número um. Uma das influência para seu ateísmo vem das afirmações de Karl Marx o qual também teve grande contribuição para minha visão ateísta do mundo.
O seu mais recente trabalho foi livro Ensaio Sobre a Cegueira, a obra se tornou uma das mais famosas de seu autor, juntamente com Todos os nomes, Memorial do Convento e O Evangelho segundo Jesus Cristo.Ensaio Sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema elançado em 2008, produzido no Japão, Brasil e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha. Aos olhos de Saramago o livro Ensaio Sobre aCegueira: "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que épreciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."

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O FATOR DEUS DE JOSÉ SARAMAGO

Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderão "ver" cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes. Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, seqüestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo. Pelo mesmo processo um terceiro avião causa danos enormes no edifício do Pentágono, sede do poder bélico dos States. Os mortos, soterrados nos escombros, reduzidos a migalhas, volatilizados, contam-se por milhares. As fotografias da Índia, de Angola e de Israel atiram-nos com o horror à cara, as vítimas são-nos mostradas no próprio instante da tortura, da agônica expectativa, da morte ignóbil. Em Nova York tudo pareceu irreal ao princípio, episódio repetido e sem novidade de mais uma catástrofe cinematográfica, realmente empolgante pelo grau de ilusão conseguido pelo engenheiro de efeitos especiais, mais limpo de estertores, de jorros de sangue, de carnes esmagadas, de ossos triturados, de merda. O horror, agachado como um animal imundo, esperou que saíssemos da estupefação para nos saltar à garganta. O horror disse pela primeira vez "aqui estou" quando aquelas pessoas saltaram para o vazio como se tivessem acabado de escolher uma morte que fosse sua. Agora o horror aparecerá a cada instante ao remover-se uma pedra, um pedaço de parede, uma chapa de alumínio retorcida, e será uma cabeça irreconhecível, um braço, uma perna, um abdômen desfeito, um tórax espalmado. Mas até mesmo isto é repetitivo e monótono, de certo modo já conhecido pelas imagens que nos chegaram daquele Ruanda-de-um-milhão-de-mortos, daquele Vietnã cozido a napalme, daquelas execuções em estádios cheios de gente, daqueles linchamentos e espancamentos daqueles soldados iraquianos sepultados vivos debaixo de toneladas de areia, daquelas bombas atômicas que arrasaram e calcinaram Hiroshima e Nagasaki, daqueles crematórios nazistas a vomitar cinzas, daqueles caminhões a despejar cadáveres como se de lixo se tratasse. De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem exceção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana. Ao menos em sinal de respeito pela vida, devíamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade evidente e demonstrável, mas a maioria dos crentes de qualquer religião não sófingem ignorá-lo, como se levantam iracundos e intolerantes contra aqueles para quem Deus não é mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com infernos, tão falsos uns como os outros, insultos descarados a uma inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deu a criar.
Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os talebanes, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactuado entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.
E, contudo, Deus está inocente. Inocente como algo que não existe que não existiu nem existirá nunca, inocente de haver criado um universo inteiro para colocar nele seres capazes de cometer os maiores crimes para logo virem justificar-se dizendo que são celebrações do seu poder e da sua glória, enquanto os mortos se vão acumulando, estes das torres gêmeas de Nova York, e todos os outros que, em nome de um Deus tornado assassino pela vontade e pela ação dos homens, cobriu e teimam em cobrir de terror e sangue as páginas da história. Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o "fator deus", esse, está presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor dela. Não é um Deus, mas o "fator Deus" o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, e não a outra...) a bênção divina. E foi no "fator Deus" em que o Deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações. Dir-se-á que um Deus andou a semear ventos e que outro Deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres Deuses sem culpa, foi o "fator Deus", esse que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta.
Ao leitor crente (de qualquer crença...) que tenha conseguido suportar a repugnância que estas palavras provavelmente lhe inspiraram, não peço que se passe ao ateísmo de quem as escreveu. Simplesmente lhe rogo que compreenda, pelo sentimento de não poder ser pela razão, que, se há Deus, há só um Deus, e que, na sua relação com ele, o que menos importa é o nome que lhe ensinaram a dar. E que desconfie do "fator Deus". Não faltam ao espírito humano inimigos, mas esse é um dos mais pertinazes e corrosivos. Como ficou demonstrado edesgraçadamente continuará a demonstrar-se.
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Nota de WilliamPereira: Silêncio, meditação, reflexão, é tudo isso que devemos fazer ao terminar de ler um comentário desta natureza, realmente analisar este "Fator Deus" tão louvado e seguido por centenas, milhares, milhões de pessoas em todo o mundo sem uma critica, sem se voltar realmente a quem serve estas religiões ou Deus. Como gostaria que essas centenas, milhares, milhões de pessoas pudessem ler e refletir sobre este e outros tantos assuntos que os ateus na sua angustia, na sua ânsia de tirar essas pessoas desse engodo, dessa enganação, dessa degradação humana que se chama Religião e utilização do nome Deus para denegrir a raça humana se lança nesta luta desigual e desumana. Talvez quem saiba se deixasse seguirmos nossos passos como fizeram diversas civilizações primitivas a humanidade encontrasse seu caminho com mais harmonia e paz. Não creio que exista só um caminho para a humanidade, para as pessoas, devemos e podemos criar outros caminhos que nos levem para uma razão mais lógica e racional e não tenhamos de enfrentar tanta desgraça edestruição para satisfazer a loucura dos governantes e daqueles que detém o poder econômico mundial e sabemos que são eles que mais utilizam a religião para manter seus domínios e riquezas e para isso não tem piedade nem rancor de lançar milhões de seres humanos em guerras fratricidas utilizando o nome de Deus, a ignorância, a fé e a inocência dos muitos inocentes deste mundo. A história é prova inconteste de tudo isso.
Leia mais em http://deusdeuseseateus.blogspot.com/2008/07/captulo-8.html




 

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