Reeleição favorece ruralistas e concessionários de rádio e televisãoNo âmbito de seu projeto Excelências (aqui), a Transparência Brasil recolhe diversos tipos de informações a respeito de todos os parlamentares pertencentes às principais Casas legislativas brasileiras: Senado Federal, Câmara dos Deputados, todas as Assembleias Legislativas (e mais a Câmara Legislativa do DF) e todas as Câmaras de Vereadores das capitais. São 55 Casas em que, a cada momento, há 2.368 parlamentares em exercício. Todos são cobertos pelo projeto. Um total de 1.817 deles candidatou-se nas eleições de 2010, a grande maioria à reeleição, os demais a cargos diferentes daqueles que ocupam.
Entre os dados recolhidos no Excelências está a pertinência a certos grupos: membros de seitas pentecostais, ruralistas, concessionários de rádio e televisão, sindicalistas, policiais, proprietários de instituições de ensino e os ligados a organizações não-governamentais (ONGs). É interessante estudar qual foi o desempenho eleitoral desses parlamentares.
Dos 1.817 parlamentares-candidatos, 94 encontravam-se hoje (13/10) em situação pendente quanto a suas candidaturas (quase todos aguardando decisão do Supremo Tribunal Federal quanto à validade da aplicação da “lei da ficha limpa” às eleições deste ano) e 13 eram candidatos ao segundo turno nas eleições para governador estadual.
Entre os 1.710 políticos restantes, 1.069 foram eleitos, o que significa uma taxa de sucesso eleitoral de 62,5%. Para examinar a influência de se pertencer a alguma "bancada" específica, deve-se comparar essa média geral de 62,5% com a taxa de sucesso eleitoral dos integrantes de cada "bancada".
A tabela seguinte especifica os porcentuais de sucesso entre as sete "bancadas" de parlamentares relacionadas a interesses especiais:
| Donos de
escolas | Ruralistas | Concess.
de rádio/TV | Sindicalistas | Evangélicos | ONGs | Policiais |
Total de candidatos* | 15 | 227 | 145 | 137 | 113 | 23 | 56 |
Eleitos | 73,3% | 71.8% | 71,7% | 59,9% | 59,3% | 52,2% | 44,6% |
* Exceto aqueles com situação pendente e os que disputam o segundo turno |
Proprietários de escolas, ruralistas e concessionários de rádio/TV tiveram desempenho eleitoral marcantemente melhor do que a média geral de 62,5%, ao passo que os demais tiveram sucesso menor do que a média. Sindicalistas e evangélicos ficaram bastante perto da média geral, os ligados a ONGs um pouco mais abaixo e os parlamentares-policiais na “lanterna”, com apenas 44,6%.
Isso mostra que ser sindicalista ou evangélico, por exemplo, não tem efeito apreciável sobre o sucesso eleitoral.
A influência que uma concessão de rádio/TV tem sobre o sucesso eleitoral fica patente quando se examina o cruzamento com outros grupos. Entre os evangélicos, por exemplo, aqueles que detêm tais concessões (são 14 no total) foram eleitos numa taxa de 71,4%.
Observe-se que esses números informam apenas sobre os tamanhos mínimos das "bancadas" produzidas pelas urnas em 2010, pois novos integrantes, que antes não detinham mandatos, podem ter sido eleitos.
Nota: A comparação direta entre porcentagens, conforme relatado neste comunicado, é uma forma elementar de aquilatar a influência de variáveis estatísticas sobre o resultado em subgrupos, fornecendo uma imagem aproximada do que acontece. A maneira precisa de fazer isso não é exposta aqui, mas produz os mesmos resultados: deter concessão de rádio/TV ou ser ruralista (ou ambos, como é o caso de diversos políticos) tem efeito nitidamente favorável para o sucesso eleitoral, enquanto a pertinência a outros grupos não altera significativamente as chances de eleição
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