sexta-feira, dezembro 31, 2010

TUDO SE REPETE

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WASHINGTON OLIVEIRA (WARO)
BRASÍLIA, DF, BRAZIL
Pensador, escrevedor de rascunhos e viajante intergaláctico.

Tudo se repete

OuroborosNa virada do ano 2008 para 2009, estava eu, posto em sossego, na solidão de Brasília, quando os fogos explodindo me levaram à seguinte constatação: Tudo se repete!
Tudo bem, isto não é inédito. Na verdade, é uma concepção de mundo quase tão antiga quanto a humanidade. Mas, convenhamos, não é algo que se admite no dia a dia.
A seguir, um trecho do que pensei naquele momento:
"Sobre ciclos e festejos
Não entendo uma coisa neste mundo. Por que se comemora tanto um evento que é cíclico? Se o planeta Terra deu mais uma volta em torno do sol, isso só significa que ela vai fazer o mesmo trajeto novamente. Ou seja, vamos fazer um giro no sol novamente! Que novidade é essa? Há milhares ou milhões de anos a mesma coisa acontece, muito antes de a humanidade existir!
Se a cada passagem ocorresse um fato novo, algo excepcional, do qual se dissesse: Olha! nessa virada de ano a Terra vai ter uma inclinação nova! Ou: no próximo ano vamos receber a visita dos jupiterianos! Mas não. A única novidade é que os homens vão continuar se matando com menos ou mais perversidade, e levando com eles plantas e animais.
Não tem graça essa comemoração de virada de ano. O motivo do festejo é muito convencional, é humano demasiado humano, como diria Nietzsche. O que deveria haver nessa fase do ano é, primeiramente, um sentimento de dejá-vu: lá vamos nós, tudo novamente, mais uma volta em torno do sol. Talvez devesse ser um momento triste e não alegre. E o outro sentimento deveria ser o de fazer novamente, ao invés do de fazer diferente, com aquelas deslumbradas promessas de 'no próximo ano, vou fazer isso ou aquilo'.
As promessas deveriam ser a de fazer de novo, como sendo uma oportunidade de fazer melhor, de se aprimorar, de não repetir mais erros. Seria um estímulo maior para, não só o indivíduo, mas também a civilização se aperfeiçoar. Entretanto, como a percepção é outra, acabamos sendo tolerantes demais com nós mesmos. 'É um ano novo, uma nova história, uma história em branco que vamos encher de novas façanhas', e que acabamos por encher com novas misérias. Se aceitássemos ser o mesmo ano repetido, diríamos: 'vamos acertar desta vez', e talvez saíssemos aos poucos da vilania em que nos metemos.
Esta visível contradição entre a existência cíclica do mundo e a existência linear da consciência humana é o que mais corrói por dentro.
(...)"

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