quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Nerds Somos Nozes

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Primer

Posted: 22 Feb 2010 02:56 PM PST

 

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O cinema independente chutou a porta do cinemão hollywoodiano no fim da década de 80 / início da década de 90, com uma série de filmes, dos quais se destacaram Sexo, Mentiras e Videotape, Cães de Aluguel e El Mariachi. Uma coisa esses filmes tinham em especial: eram independentes de verdade, tinham diretores revirando o mundo em busca de grana para torna-los reais, lançamentos em circuitos mínimos, boca-a-boca e geralmente botavam a cara no mundo no Festival de Sundance, ainda hoje o maior lar do cinema independente americano.

De lá para cá as coisas mudaram, provavelmente por causa desse chute. Cinema Independente virou uma grife usada por grandes estúdios para mostrarem que também sabem fazer coisas sem os orçamentos milionários que vemos por aí. É mais ou menos como a chamada Consciência Ecológica de hoje, que está em todo o lugar, mas poucos parecem conhecer a essência do que ela representa, se preocupando somente com o status de bem-feitor que ela proporciona.

Dessa idéia, os mega conglomerados de cinema criaram pequenos estúdios, as chamadas divisões de arte. Alguns desses pequenos estúdios atendem pelo nome de Screen Gems (da Sony), Warner Independent Pictures e Picturehouse (os dois últimos da Warner, recentemente fechados). Com essas mudanças, independente adquiriu um novo sentido em definitivo, e os filmes com essa classificação deixaram de ser feitos quase na base da guerrilha, e passaram a ser produções com pouca grana de grandes estúdios. O pior fator desses novos tempos dizem respeito a interferência de gente como Alan Horn ou os próprios Irmãos Weinstein em produções que deviam ser verdadeiramente independentes, mas em sua essência não eram.

A boa notícia é que ainda existe gente que tá pouco ligando pra essas coisas, e fazendo filmes que vão contra todas as chamadas regras do sucesso. E o melhor: obtendo sucesso sem elas! Primer é um exemplo clássico pra ilustrar que casos assim existem em dias confusos como os de hoje. A própria história da produção do filme é tão mitológica quanto a famosa fábula do nerd que saiu de trás do balcão de uma locadora direto pra cadeira de diretor de clássicos como Pulp Fiction.

Shane Carruth era um matemático entediado com a própria profissão. Resolveu que o caminho para sair do marasmo era o cinema. Com essa idéia 180º na cabeça, ele levou três anos para roteirizar, produzir, atuar, dirigir, editar, compor trilha e lançar Primer, sua estréia no mundo dos filmes. Os gastos dele com a produção nos leva a outro icônico símbolo do cinema independente: foram míseros 7 mil dólares, usados somente no aluguel das câmeras, e na compra e revelação de alguns filmes 16 mm… os mesmos gastos de Robert Rodriguez no seu western latino, El Mariachi. Após ver seu filme devidamente selecionado em Sundance, Carruth arruma grana emprestada com um amigo e faz uma cópia 35 mm… e foi em Sundance que Primer deslanchou, e alcançou um status cult rapidamente.

Primer é um filmaço, mas que nunca faria sucesso no circuito mainstream. A própria linguagem usada no filme, e o formato louco que Carruth tratou de colocar nele, respondem essa questão muito facilmente. Primer é um quebra-cabeça complexo o bastante para dar um nó cego no seu cérebro, provocar suicídio coletivo nos seus neurônios, fazer sua massa encefálica escorrer pelas suas narinas; tudo isso sem esforços mirabolantes.

Não por acaso rolaram diversas comparações com outro campeão de Sundance: Pi, do genial Darren Aronofsky. Mas, se em sua forma os dois filmes são parecidos - tratam de ciência, não fazem concessões ao expectador ou se põe a explicar tudo o que tá rolando na tela - em sua essência os dois são fundamentalmente diferentes. Pi trata de paranóia, de vícios, de isolamento, de loucura, e usa a matemática para expressar isso com perfeição. Já Primer é ciência pura, ficção científica em sua melhor forma, com alguns elementos de 2001, e filmes-pesadelo de David Lynch. Se Pi tende a ser quase místico, principalmente em seu final quase metafísico, Primer é pura ciência e ponto!

 

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Já em seus primeiros momentos, Primer te deixa tonto. São minutos e minutos de diálogos científicos rolando numa garagem, num ritmo que deve assustar até o cinéfilo mais acordado - lembra bastante aqueles filmes franceses histéricos e verborrágicos -, e que só devem fazer sentido pleno pra alguém que ama Exatas. No centro da trama, quatro amigos. Eles estão bem empregados, mas montam uma pequena empresa bem no estilo dos pioneiros da computação, e se dedicam a uma criação própria, mesmo que pelo rumo das conversas, você chegue a conclusão que eles não saibam exatamente para onde estão indo. Para obterem sucesso, eles não medem esforços, e lançam mão de tudo quanto é recurso que está a disposição, como o gás de uma geladeira, e pedaços de ferro que encontram.

Dois dos amigos pulam fora do projeto, e Aaron (interpretado pelo próprio Carruth) e Abe, sabendo que estão perto de algo grande, decidem continuar. Ao colocarem a máquina semi-pronta em testes dentro de um compartimento de ferro, eles chegam a resultados aparentemente bizarros: a máquina gerou proteína de um fungo. O lance é que a proteína gerada em cinco horas levaria cinco anos para ser gerada em condições normais. O que isso quer dizer? Bom, esse é apenas um dos mistérios intrigantes do filme, que resolvida essa questão, vai mergulha-lo em um absurdamente viajante quebra-cabeças.

A própria narrativa do filme não faz concessões. Carruth dá uma de J. J. Abrams e não faz a mínima questão de explicar o que tá rolando na tela, cabendo ao espectador reunir todas as pistas na sua cabeça e formular suas próprias teorias, que com certeza vão de encontro às teorias que a pessoa do seu lado formulará. Como único ponto narrativo comum, está uma narração em off, aparentemente feita por Aaron após a conclusão de todas as questões levantadas no filme. E vai logo um aviso: não pense que o fim do filme fecha todas as questões pendentes na cabecinha confusa… muito pelo contrário, você terá que ver tudo novamente, reunir com o que sabe após ver o filme completo, e tentar chegar a uma conclusão definitiva.

Uma dica? Viagens no tempo… de forma inédita… que envolvem máquinas do tempo dentro de máquinas do tempo…

 

A idéia de Carruth ao criar Primer diz respeito a um relato que ele leu sobre grandes invenções. Em entrevista em Sundance, ele afirmou que o filme foi como uma versão moderna dessa experiência - daí a garagem, e os jovens - lembrando gente como Bill Gates, Steve Jobs e Steve Wozniak. Carruth vai além, e deixou claro que Primer foi uma versão filmada dele próprio fazendo a sua descoberta historicamente importante.

Surpreendentemente o filme se sai bem em quesitos técnicos. Apesar de não possuir qualquer tratamento técnico especial - além da ausência de efeitos computadorizados, coisa cada vez mais rara no mundo sci-fi - o filme possui certas peculiaridades interessantes. Sua coloração amarelada e fortemente verde, e com uma predominância de tons variantes dessas cores, dá um sentido que se une a temática científica do filme. Os enquadramentos são estáticos, lembrando o formato incômodo de muitas séries de TV. É o estilo perfeito para o caminhão de diálogos poderosos que os personagens despejam a todo o momento. A edição contrapõe tudo isso e é rápida, acompanhando a verborragia de Aaron e Abe, chegando por vezes a ser insanamente difícil de acompanhar.

 

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Após o final icônico e mais complexo que a arquitetura de um fractal infinito, é fácil ter a certeza que Primer é um filme inteligente, recheado de ousadia e com um roteiro ótimo. Mas não é para todos, por mais batida e aparentemente metida que seja essa afirmação. É como um Donnie Darko com foco mais amplo na questão científica. É necessário mergulhar de verdade na experiência que é ver o filme, formular teorias, assistir duas ou três vezes, discutir com amigos e chegar a alguma conclusão.

Para quem acha que o futuro do cinema está somente no 3D, em orçamentos mais caros que os gastos de luz de uma mega cidade, em pirotecnia; e não em roteiros inteligentes, Primer pode ser um lixo sem pé nem cabeça, uma viagem na maionese. Lamentável…

 

Primer (EUA, 2004)

Direção: Shane Carruth

Direção: 78 minutos

Nota: 9

E começa a temporada dos boicotes: Alice e Heavy Rain estão no mesmo barco

Posted: 23 Feb 2010 03:54 AM PST

 

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Por motivos diferentes, mas igualmente condenáveis (ou não… cada um com sua opinião), estão sendo cogitado boicotes a Alice no País das Maravilhas - possível-neo-clássico-gótico de Tim Burton - e ao mais que hypado e esperado novo representante dos games que queriam ser filmes, Heavy Rain.

Com Heavy Rain a coisa é simples: o jogo será banido nos Emirados Árabes Unidos, por exibição de "conteúdo violento e nudez". A notícia foi confirmada pela Sony ontem, que soltou os clássicos blábláblás de executivos pra dizer que o conteúdo do jogo está dentro do aceitável, o que é inteiramente concordável, visto que em países árabes ocidentalizados, como a Arábia Saudita e o próprio Emirados Árabes, existe uma aceitação forte com cenas violentas de filmes hollywoodianos e seria perfeitamente normal enquadrar games nos mesmos parâmetros.

Parece uma notícia normal - e infelizmente é -, mas tem dois pontos discutíveis aí: autoridades colocando os games como uma mídia secundária, e aceitação maior da violência perante o sexo. Não sei exatamente o que rola na cabeça de um juiz desocupado, mas é fato que não vejo filmes, ou álbuns musicais sendo proibidos por aí, somente gamesm e ajuda o fato de poucas empresas grandes de games estarem representadas por aqui. Creio que tudo começou aqui nas nossas terras com a proibição de Carmageddon, no fim da década de 90. Em questão de semanas, surgiram inúmeras reportagens em Vejas e Istoés da vida mostrando o perigo aterrador e satânico que games como Diablo e Doom podiam representar na mente de crianças. E o melhor: com estudos científicos (!!!), sendo que nem nos dias de hoje existe algo próximo de um consenso sobre os efeitos desses produtos na mente humana. Só esqueceram de avisar a eles que o game é inspirado em Death Race 2000, filme de ação com Stallone, em que corredores… devem atropelar pedestres!!! Proibiram o filme? Não…

Isso rola pois games são de uma geração posterior à geração dos velhotes que editam jornais, ou dos caras que formulam leis. Eles não tiveram um SNES quando crianças, e isso deve encher as mentes deles de inveja. Mesmo nos dias de hoje, com os games representando uma mídia consolidada, e reconhecidamente mais lucrativa que a de cinema, ela ainda é secundária, é coisa de desocupado na cabeça de muita gente. E por isso é tratada com leviandade. Quer mais um exemplo? Uma reportagem babaca do Jornal Hoje, exibida em novembro passado, "descobrindo" Bully, jogo da Rockstar. O escritor da matéria ainda teve a cuzice de chamar os jogadores do game de covardes, e dizia com todas as letras que o game era incentivador do bullying que rola nas escolas.

É melhor nem comentar esse tipo de reportagem que se diz minimamente "jornalística". Não vou dizer que joguei horas e horas do jogo e ainda não ameacei quebrar narizes de nenhum aluno indefeso, ou falar que quem faz bullying são pessoas e não jogos… não adianta, games são uma mídia de periferia na cabeça da geração passada, e vai ser assim por um bom tempo!

E tenha certeza de uma coisa: Heavy Rain só está sendo proibido pelo sexo que rola nele, segundo os produtores, de modo explícito. Todos estamos acostumados com a violência, mas nem todos com o sexo, e agradeçam às religiões castradoras que existem nesse mundo. Apesar de ver isso acontecer ao meu redor uma cacetada de vezes, é difícil me acostumar com gente que vê Stallone arrancando pernas, tripas e cabeças com uma .50 em Rambo IV, mas fica com nojo de ver Angelina Jolie fazendo uma cena lésbica linda em Gia, ou a lindinha Anne Hathaway transando no banco traseiro de um carro em Garotas Sem Rumo.

É uma bizarra inversão de papéis. Gente normal não pega facas e abre barrigas alheias, ou arranca pedaços humanos com uma metralhadora… gente normal (e feliz) TRANSA (faz amor, trepa, whatever)! E quanto mais a gente transa, mais a gente quer transar! Então, ver gente fazendo sexo loucamente numa tela deveria ser um pouco mais normal do que assistir Steven Seagal quebrando mãos alheias (relevem o exemplo com o Steven Seagal).

Mas Eu não espero que a geração que tá aí, dominando, entenda esse tipo de coisa. Muito menos reis com as bundas sentadas em petróleo…

 

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E Alice? Tá riscado tomar boicote por que? Bom, o motivo é muito mais comercial e menos cultural! Parece que a Disney encontrou uma saída para vender mais DVDs do filme, e essa saída não agradou os donos de salas de cinema. Os executivos da Disney calcularam que o período de férias escolares são péssimos pra venda de DVDs, e por isso acharam prudente diminuir a janela entre o lançamento do filme no cinema e sua versão em DVD. O normal - fruto de acordo de distribuidoras com redes de cinema - é lançar os DVDs 17 semanas depois do lançamento no cinema, mas a Disney anunciou que lançará Alice 12 semanas depois… e começou a Revolução das Redes de Salas de Cinema.

Começou na Holanda, com as quatro redes principais de cinema - Minerva, Pathé, Wolf e Jogchems, que juntas dominam 85% do mercado - se unindo e calculando que terão um prejuízo monstruoso por causa dessas cinco semanas de adiantamento. Como a Disney não cedeu ao protesto eles decidiram colocar o pau na mesa, e entraram num acordo de excluir totalmente o filme da programação das salas.

Até aí tava tudo tranquilo, a Holanda é terra dos hipongas que fumam maconha, sem problemas para a maior empresa de entretenimento do mundo. Mas a bola de neve rolou e começou a crescer. As redes Odeon, Vue e Cineworld, que mandam em 95% dos cinemas 3D ingleses, entraram na dança, e aderiram ao boicote, já tendo retirado os cartazes dos filmes de suas salas. E nesse momento já tem gente falando até em redes americanas aderirem ao protesto… e aí, amiguinho, não tem Disney que não coloque o rabo entre as pernas!

Mas como o cinema vive dessas queda de braços por causa de grana, só nos resta sentar no sofá das nossas casas e torcer para tudo se resolver e dia 16 de abril esse bendito filme desembarcar aqui (5 de março nos EUA). Eles estão pouco se fudendo pra você ou pra mim, somos apenas um número nas bilheterias. Por isso não tenho problema em esperar um DVDScr no Pirate Bay, não é a mesma coisa, mas estou pouco me danando pra 3D mesmo, só quero ver o que Burton aprontou com esse clássico da literatura-psicodélica…

 

[Via Cinema.com.br e EDGE]

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