sábado, julho 31, 2010

POR QUE VOTAR EM SERRA... - POR RAFAEL GALVÃO

Por que votar em Serra

Rafael Galvão

FONTE: http://www.rafael.galvao.org/2009/06/por-que-votar-em-serra/

Está na hora de prestar um serviço à oposição. De chamar-lhe à realidade. E isso pode ser feito com uma pergunta simples: por que votar em Serra?
É mais que hora da oposição tirar os olhos de Dilma, de sua saúde, do jeito como Lula se comporta. Chega de tentar criar factóides, como a CPI da Petrobras, que apenas tentam mascarar a sua inépcia — poucas coisas são mais impressionantes do que ver o PSDB, que sempre teve a Petrobras na mira da privatização e que a sucateou de todas as formas entre 1995 e 2002, hoje tentar aparecer como seu defensor, tentando jogar para baixo do tapete as melhoras significativas que a empresa alcançou durante a era Lula.
A oposição precisa de um banho de realidade. Não somente porque seria mais ético, mas porque, diante dos índices de popularidade de Lula, agir da forma que ela tem agido durante todos esses anos é o tipo de estratégia que não dá certo.
Alternância de poder é uma coisa maravilhosa. Permite que um projeto melhor, mais adequado, seja submetido ao país. Foi o que aconteceu em 2002. Ao projeto esgotado personificado por Fernando Henrique Cardoso, Lula apresentou uma concepção de país que, ao mesmo tempo em que mantinha o avanço e o respeito aos fundamentos econômicos registrados nos anos anteriores, levava o governo a uma nova atitude no que diz respeito à area social. Com o Bolsa Família, criou o maior programa de distribuição de renda do ocidente.
Aperfeiçoou a estrutura econômica brasileira e, se com Fernando Henrique o país quebrou três vezes, agora resistiu de maneira absoluta ao que chegaram a chamar de maior crise econômica da história. Levou o país a um novo patamar de respeito internacional. Mudou a atitude brasileira em relação ao comércio exterior, que antes, preocupada da tradicional maneira submissa com Naftas e quetais, deixava de lado mercados emergentes nos quais a nova diplomacia brasileira resolveu investir com resultados mais que satisfatórios.
Por tudo isso, não é com a saúde de Dilma que a oposição tem que se preocupar. É com esses fatos.
Em 2010, assim como em 2006, não vão adiantar factóides. Será preciso, ainda que isso a aterrorize, que a oposição apresente um programa de governo real e palpável. É algo que a sociedade vai cobrar dela. Ao contrário do que os saudosos do Plano Real possam imaginar, as eleições de 2010 não serão iguais às de 1994. O PSDB não vai estar na situação; e o povo não vai estar desesperado correndo de uma inflação de três dígitos. O país que a oposição vai enfrentar no ano que vem estará mais estruturado e mais bem encaminhado.
Resumindo: a oposição vai ter a inglória tarefa de apresentar conserto para um país que dá certo.
Há alguns anos, neste blog, eu lembrava a quem quisesse ler que era mais fácil para o governo achar um candidato à sucessão de Lula do que a oposição finalmente definir um programa. Dois anos se passaram e os fatos não parecem ter me desmentido. Aqueles que criticam o Bolsa Família, usando inclusive argumentos falsos e canalhas, até agora se mostraram incapazes de apresentar uma alternativa concreta ao programa. Estão correndo atrás do prejuízo.
Mas a essa altura, a oposição precisa ser objetiva. Precisa dizer claramente quais as razões pelas quais é melhor que José Serra — ou Aécio, ou qualquer um — seja eleito presidente do Brasil.
Não é, admito, uma tarefa fácil. Está claro que a missão de Dilma vai ser dar continuidade ao projeto de governo de Lula. O palanque de Dilma é sólido e de uma simplicidade espantosa: é continuar fazendo o que Lula fez. Ela não pretende reinventar a roda nem inventar a pólvora. Seu projeto é claro, definido, e de conhecimento público.
Qual é o projeto de Serra?
É preciso que a oposição faça a si mesma algumas perguntas. A primeira delas é: o que José Serra vai fazer de melhor como presidente? Sem cair na estupidez de dizer que este é um país que não funciona — porque, pela primeira vez em décadas, as pessoas finalmente sentem que ele melhora a cada dia –, o que Serra tem a apresentar que seja melhor do que Lula vem fazendo?
Quais as suas propostas para melhorar a distribuição de renda no país? Como ele fará com que o Brasil seja mais respeitado no exterior? O que ele pretende fazer para, sem passar por cima do jogo democrático e da separação de poderes, aumentar o nível de governabilidade do país?
Algumas armadilhas vão aparecer no seu caminho. Como justificar que, depois de oito anos dizendo que o Bolsa Família não presta, eles vão à TV e ao rádio dizer que não pretendem acabar com o programa? (Na verdade, eles já estão correndo atrás do prejuízo. Há cerca de duas semanas, o DEM e o PSDB de Sergipe realizaram um mini-seminário de um dia, com a presença do deputado federal carioca Rodrigo Maia, sobre Bolsa-Família. No que é um passo acertado, e uma correção de rumo há muito devida, a oposição resolveu deixar de lado a sua resistência irracional e aprender como é que se faz.)
Essas não são as únicas questões que vão aparecer diante da oposição. Eles vão precisar responder outras perguntas mais simples e que dão direito a menos tergiversações. Por exemplo: o que, no mandato de José Serra como governador de São Paulo, dá àqueles que o apóiam a convicção de que ele será melhor presidente do que Dilma? Com exceção de obras superfaturadas, crateras de metrô e livros didáticos heterodoxos, o que o governador de São Paulo vai poder apresentar como credenciais para que o povo brasileiro volte as costas ao projeto de Lula e vote nele?
Até agora, a neo-UDN tem apenas gritado e reclamado. Nesses oito anos, sua maneira de fazer oposição tem se mostrado aética e, definitivamente, nem um pouco republicana. Isso pode ser creditado ao seu desconforto nessa posição, em última análise. Mas isso são águas passadas. Do que se vai falar agora é de futuro. É de concepção de país. Pode ser uma perspectiva assustadora; mas é inevitável.
Está na hora de a oposição tirar a cabeça do buraco de onde grita “Está tudo errado!” e tentar mostrar às pessoas, afinal de contas, por que votar em Serra.

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