terça-feira, novembro 30, 2010

O PERFIL DO PODER VAI MUDAR: CLASSE "D" TEM O DOBRO DA "A" NAS UNIVERSIDADE


  


TRANSPOSTO DA COLUNA PROSA & VERSO DE CRISPINIANO NETO NO JORNAL DE  FATO DIA 30 DE NOVEMBRO DE 2010

O perfil do poder vai mudar:  classe D tem o dobro da
A nas universidades
Por Crispiniano Neto

Quem dirigiu a Esam por mais de uma vez foi Vingt-un Rosado, filho da mais poderosa família mossoroense, homem reconhecidamente preparado, pois antigamente eram os filhos das elites que conseguiam se preparar para dirigir empresas e instituições. O reitor da dita Esam, hoje Ufersa, já universidade e vinte vezes maior, é Josivan Barbosa de Menezes, filho de um agricultor paupérrimo da zona rural de Caraúbas e o vice-reitor da Uern é Aécio Cândido, como ele próprio informa em sua biografia, filho de um capoteiro sem maiores posses da chã da serra de Cuité. Esses dois meninos pobres, hoje destacados professores doutores, pesquisadores e gestores acadêmicos tiveram oportunidade de estudar... Do contrário seriam hoje, na melhor da hipótese, um capoteiro e outro, assentado numa ocupação de terra, debaixo de uma lona preta. Poderiam ter tomado rumos piores, como outros homens inteligentíssimos, empreendedores corajosos e com enorme capacidade de liderança como o foram Antonio Silvino e Lampião, para quem, como disse Zé da Luz, faltou justiça e escola. A grande feminista potiguar Nísia Floresta criou uma escola de meninas onde elas podiam estudar coisas que só os homens estudavam. É que naquele tempo, a única mulher que podia estudar coisas de homem era a Princesa Isabel, porque precisava se preparar para governar, ou seja, mandar. Um empresário mossoroense já me disse que só há dois tipos de pessoas, os que mandam e os que obedecem. É por isso que nos EUA, Europa e Japão e por aqui também, já que copiamos tudo, há um tipo de escola para preparar os que "vão mandar" e outra para preparar "os que vão obedecer". Como disse Paulinho da Viola, "...Sambista não tem valor/nessa terra de doutor/e sêo doutor/o meu pai tinha razão...". Mesmo sabendo-se que nas universidades brasileiras prevalece a mesma proposta dos níveis que a precedem, com o corte ideológico da preparação dos que vão mandar e dos que vão ser mandados, mas o título, o diploma, o chamado canudo ainda é uma ferramenta de ascensão social. E numa sociedade de classes quem manda são as elites. A classe D, que em 2002, último ano da era FHC, tinha 180 mil membros cursando universidades, hoje tem 887.400, enquanto a classe A tem apenas 423.400. Daqui a vinte anos, o perfil do poder estará mudado, queria-se ou não. Muitos filhinhos de papai estarão curtindo uma maturidade ociosa, empobrecida e sem cargos de mando, enquanto milhões de meninos saídos das favelas, dos assentamentos e do chão da fábrica, com diplomas de engenheiros, médicos, advogados, economistas, etc. De modo que muitos filhos dos ricos atuais estarão entre "os que obedecem" e muitos filhos de pobres entre "os que mandam". Talvez, vendo por esse ângulo, possamos entender porque tanto ódio do DEM, do PSDB e do PIG ao Prouni, ao Enem e às cotas sociais e raciais. E tem mais dois "agravantes". Teremos mais mulheres do que homens com diplomas universitários. E dezenas de milhares de negros graduados, mestres e doutores sentados atrás dos birôs, dando ordens. Multiplicar por três, o orçamento da educação em oito anos, criar 50 novas universidades e 130 extensões universitárias, inventar o Prouni e articular o Reuni e mais de duzentos institutos federais de educação, além de encher a barriga dos pobres para que eles pudessem sonhar com o cérebro em vez das tripas, incorporando centenas de milhares de jovens pobres ao acesso ao saber e ao diploma, é, sem sombra de dúvidas, a maior vingança de Lula contra os que lhe privaram da escola no passado. O punhal de três palmos de lampião e as metralhadoras ponto 50 dos traficantes do Complexo do Alemão são muito menos poderosos que essa guerrilha de cérebros contra as casamatas da burguesia que tem filhos "curtindo uma lombra" enquanto os filhos dos pobres estudam.

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