terça-feira, junho 01, 2010

COLUNA DÈJÁ VU - DR. MILTON MARQUES


TRANSPOSTO DO JORNAL GAZETA DO OESTE CADERNO MOSSORÓ PÁGINA 5 COLUNA DÈJÁ VU
MOSSORÓ-RN  DOMINGO 30 DE MAIO DE 2010
Tudo depende da maneira de dizer
 
Muda o ano, as estações da natureza, o corpo humano. Pessoas há, entretanto, que nunca mudam. Da infância à velhice são sempre as mesmas. Suas atitudes diante de fatos idênticos se repetem como autômatos programas. Mantêm e fazem questão de preservar por toda vida seus sentimentos, vícios, formas de decidir. Dizem que são assim mesmo, e pronto, o resto que se lixe. Notam as corcundas que carregam, mas continuam resistentes, mesmo que estejam conscientes de suas irreverências. São indóceis, inconvenientes, ranzinzas, inacessíveis e mal educados. Esse padrão exibido por muitos fez o dramaturgo Nelson Rodrigues escrever em uma de suas tiradas: "Na vida o homem só muda os dentes". Muitos passam realmente indiferentes diante das mutações evoluídas pelo novo. Esses personagens estão por toda parte, no trabalho, no lar, nas recreações, nos ambientes abertos, até nos templos religiosos. 
  As pessoas mudam quando querem
 
Os ortodoxos psicanalistas acreditam que o caráter das pessoas não muda, mas a personalidade pode ser modificada. Ora, se pode mudar a personalidade, ou seja, "o todo, como produto final", pouco importa que algumas peças sejam recalcitrantes e perenes dentro de cada ser. Mude no seu modo personificado e conserve seu caráter arredio e seu afeto efetivo. O importante é a pessoa se relacionar com destreza e originalidade com a sociedade, da qual ele emana e para qual ele existe e é obrigada a prestar serviços que a melhore e não piore. A mente humana tem poder para corrigir esses desatinos. Ela, a mente, quando bem usada, é soberano. Nada de mudar o sentir, pois todos sabem que o que é afetivo é efetivo, isto é, a forma de sentir é individual e não muda com o passar do tempo. Mesmo assim, sem alterar o caráter e os sentimentos, o indivíduo pode mudar, se quiser, sua maneira de se relacionar em sociedade. É uma questão de se submeter a uma reflexão, meditação, aprofundamento interior. É só querer. 


Quando mudar
 
Muitos cristãos elegem o período da Páscoa para efetuar algumas de suas mudanças. As boas empresas não escolhem o período adequado para proceder suas mudanças de gestão. Em qualquer época vale a pena, dizem os que têm esperteza sobre o assunto. Sendo assim, por que o homem comum não reflete um pouco, a qualquer tempo, sobre o novo que lhe cerca e altera seu modo de agir, principalmente em relação aos demais?
Alexandre Rangel, inspirado em Willard Zangwill, escreveu muito sobre esse profundo tema e para facilitar utilizou algumas parábolas. 


No trabalho 
 
Há uma tendência generalizada nas empresas solicitando que seus signatários mudem de atitudes para melhor em relação aos clientes. O exemplo deve ser iniciado pelo alto, quer dizer, quem primeiro deve se conscientizar que precisa mudar para melhorar o ambiente é o gestor, o chefe, o dono, o responsável direto pela firma, residência ou agremiação na qual ele esteja inserido. Havendo por parte do gestor um conceito de que ele não tem mais nada a melhorar, aí tudo passa a ser muito difícil. Outra coisa, pensar e agir são atos diferentes. Rangel conta uma história que três sapos estavam em uma lagoa quando ela começou a secar. A água começou a esquentar, logo iria ferver. Um dos sapos resolveu sair da lagoa. Teoricamente, apenas dois sapos teriam morrido, mas não foi o que aconteceu. Os três morreram escaldados, pois o que resolveu sair apenas "resolveu" sair. Nem falou para os demais. Em vez de agir, permaneceu ali parado na lagoa. Conclusão: só resolver não adianta. Toda resolução exige uma ação ativa para se tornar efetiva. O primeiro passo para se iniciar um processo de mudança é o comprometimento do dirigente. É necessário que ele assuma a responsabilidade de mudar a empresa implantando uma nova filosofia de trabalho, demonstrando seu compromisso através de ações efetivas. Despir-se da vaidade, da prepotência, da arrogância. Irá encontrar resistências. Não importa. Outro fato importante. Não precisa apenas resolver mudar: é preciso agir, com atos, com exemplos. 


Projeção
 
Quando na tentativa alguma coisa não corresponde, logo vem a desculpa de que a culpa é dos outros.
Há uma tendência natural em todas as pessoas de projetar sempre a culpa nos outros. Isso é do humano. Faz parte dos mecanismos de defesa que Freud tanto explicou e ainda são plenamente aceitos na atualidade.
"Uma empresa estava dando prejuízo e os funcionários sentiam-se extremamente desmotivados. Era preciso fazer algo para resolver o caos. Ninguém, porém, queria assumir nada. Pelo contrário, o pessoal apenas reclamava que as coisas andavam ruins.
Um dia, quando os funcionários chegaram para trabalhar, encontraram na portaria um cartaz no qual estava inscrito: 'Faleceu ontem a pessoa que impedia o crescimento da empresa. Você está convidado para o velório na quadra de esportes'.
Todos ficaram curiosos para saber que pessoa andava impedindo o crescimento deles na empresa. E foram lá velar o moribundo. Conforme os funcionários se aproximavam do caixão, a excitação aumentava:
- Quem será que andava atrapalhando o meu progresso? Ainda bem que esse infeliz morreu...
Um a um, agitado. Os funcionários aproximavam-se do caixão, olhavam para dentro dele e engoliam em seco, caindo em seguida no mais absoluto silêncio, como se tivesse sido atingido no fundo da alma. No visor do caixão, havia sido colocado um espelho.
A mensagem visava refletir: 'só existe uma pessoa capaz de limitar seu crescimento e o da empresa: Você mesmo.'"


Falar 

 
Um outro grande desafio é julgar e falar. O importante é antes de olhar a imagem pelo lado negativo, depreciativo, fazer a leitura pelo lado positivo. Não custa muito, é uma questão de treinamento. Há pessoas que olham, antes, pelo lado negativo. Errado. Só tendo certeza que o fato não tem qualquer conotação positiva, é que se deve pensar pelo ângulo negativo ou imparcial. A forma de falar a verdade, transparente, nunca é demais.
Pincei, para aliviar o assunto, com um exemplo descontraído:
"Um rei sonhou que havia perdido todos os dentes.
Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para interpretar o sonho.
- Que desgraça, senhor! - exclamou o adivinho - Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.
O rei ficou enfurecido, chamou os guardas e ordenou que fizessem retirar imediatamente o adivinho. Mandou depois que trouxessem outro adivinho à sua presença e contou-lhe o sonho. O novo adivinho disse ao rei:
- Grande felicidade vos está reservada, alteza. O sonho significa que havereis de sobreviver a todos os vossos parentes.
Imediatamente a fisionomia do rei se mudou num sorriso e ele mandou dar 100 moedas de ouro ao adivinho. Quando o homem saiu do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado:
- Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma feita pelo seu colega. Não entendo por que ao primeiro ele pagou com 100 chibatadas e a você com 100 moedas de ouro.
- Lembre-se, meu amigo - disse o adivinho - tudo depende da maneira de dizer..." 


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