sexta-feira, maio 06, 2011

MOSSORÓ, A CAPITAL DO (FAR)OESTE - POR CRISPINIANO NETO NA COLUNA PROSA & VERSO



Jornal De Fato, 06 de maio de 2011, sexta-feira



Mossoró, a capital do (far)oeste

Seria exagero dizer que Mossoró, que vinha numa média de um assassinato a cada dois dias, de repente pulou para dois por dia. Anteontem foi um dia atípico, apesar de estar se transformando num padrão. Digo isto porque anteontem, além das duas mortes violentas, tivemos vários assaltos, furtos e roubos, além de agressões de menor e também mais de uma tentativa de assassinato além das duas que se concretizaram. De 1° de janeiro até anteontem, temos uma média de um assassinato a cada 42 horas. Uma vez ouvi uma crítica a Rosalba prefeita. Não sei da veracidade do que se dizia por que não tive, às mãos, provas concretas. Fala-se que num dos seus primeiros governos à frente de Mossoró, uma equipe da OMS - Organização Mundial de Saúde visitou a "terra do sal" interessada na montagem de um plano para a saúde pública da cidade. E em meio às conversas surgiu uma pergunta que deixou calada a equipe da prefeita e a própria prefeita, médica de longa militância na cidade. A pergunta era de uma obviedade sem limites: "Quantos nascem por ano em Mossoró, quantos morrem e de que morrem essas pessoas? Ninguém soube responder. Estou vivendo o mesmo dilema. Tenho perguntado aos colegas jornalistas que militam na área policial, que sabem de cor e salteado quantos morreram em Mossoró nestes 124 dias de 2011, pequeno lapso de tempo que coincide com a chegada de uma mossoroense ao Governo do Estado, que é a esfera responsável pela segurança pública de Mossoró e de mais 166 cidades do Rio Grande do Norte. Tenho perguntado: quem morreu? Quem matou?; ou seja, qual o perfil dos assassinados?; são ricos, empresários, profissionais liberais, artistas, religiosos?; quantos são comerciantes expostos aos assaltantes?; Quantos são bandidos: assaltantes, lanceiros, arrombadores, fugitivos das cadeias?; São os tradicionais três "pês": pretos, pobres prostitutas... Ou filhos delas?; São viciados em drogas? Que drogas? Que papel cumpriam na hierarquia do tráfico?; Quem os matou?; Por que os assassinatos? ; Qual o modus operandi, ou seja, como se mata em Mossoró?; Dá para acreditar que todos os bandidos executados foram eliminados em "brigas de gangues?"; existente um esquadrão da morte em Mossoró?; há milícias em ação?; Quantos matadores estão presos? Quantos processos instaurados? Quantos concluídos? Quais as conclusões? A governadora disse que "todo mundo sabe que isso é o crack". Como ela chegou a essa conclusão? Se todo mundo sabe, então por que não se desbarata a estrutura do tráfico em Mossoró? Ou o Estado desertou, como nos tempos de Garotinho, no Rio de Janeiro, que deixou a segurança daquele estado nas mãos das milícias, como se pode ver no filme Tropa de Elite 2, ou como aqui mesmo no RN onde a polícia já dançou "na boquinha da garrafa" num assalto em Touros e viu morrer, de graça, um delegado num assalto triplo em Macau? Poder-se-ia dizer, como Chico Buarque, que "há distância entre intenção e gesto". Mas prefiro dizer que não há gesto nem intenção de combater o crime em Mossoró. Ao menos pelas vias da lei... Natal e a Grande Natal, com mais de 1,3 milhão de habitantes já contabilizou este ano 140 assassinatos. É uma média de 1 assassinato para cada 9.285 habitantes; em Mossoró, a média é de 1 assassinato para cada 4.285 habitantes. Mossoró é um grande saloon. Quem empurrar com mais força as portas de vai e vem, sacar mais rápido e atirar com mais precisão vai se tornando herói. Herói sem causa... Herói do descaso. É bangue-bangue na terra onde a "chuva de balas" deixou de ser metáfora!

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