domingo, fevereiro 04, 2007

CRIME E HEMOFOBIA

Crime e Homofobia

Alípio Sousa Filho
professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRN
O assassinato de Augusto Escóssia, em Mossoró, em circunstâncias de grande violência e crueldade, deve-nos levar a pensar sobre a relação que uma parcela da sociedade brasileira mantém com os homossexuais. Conforme notícias várias, o rito de crueldade a que Augusto foi submetido não é de simples natureza. Revela um profundo ódio aos homossexuais, latente no imaginário social, que merece reflexão e condenação. E que o assassinato tenha sido produto de um mau-encontro sexual (entre a vítima e seus algozes) ou crime de outra natureza (o que merece ser esclarecido pela polícia!), nada muda quanto ao seu componente homofóbico. Augusto era homossexual e sua morte tem a ver com o fato de, até aqui, vivermos numa sociedade em que, para aqueles que são produzidos pelo preconceito homofóbico, alguém ser homossexual é ser sempre-já objeto de (suas) violências, por qualquer pretexto.
Não há dúvida, algumas conquistas já ocorreram e uma parcela significativa da sociedade brasileira, reeducada, removeu de si o preconceito. Mas resta uma parcela da sociedade que mantém com os homossexuais uma relação construída pelo preconceito que discrimina gays e lésbicas como anormais, pervertidos, depravados, e que alimenta um imaginário de idéias, termos e piadas que, por si mesmos, constituem violências. Essa relação é uma realidade construída e mantida por uma educação social (que vai da família à escola, passando pelas mídias e pelas diversas igrejas) que merece ser chamada de educação homofóbica.
Em nosso país, ninguém desconhece os ditos sociais do tipo “prefiro um filho ladrão a um filho gay” ou “prefiro uma filha prostituta a uma lésbica em casa”, repetidos como estribilhos em muitas famílias. Uma imagem de depreciação dos homossexuais que se vê complementada no humor de nossas mídias, nos sermões em nossas igrejas e até mesmo nas escolas (pela boca de muitos professores!)... o que tornaria possível concluir que ser gay seria a pior das coisas. Ora, se temos uma educação social que define a homossexualidade como a “pior das coisas” não é estranho a essa sociedade que jovens e adultos (em inúmeros casos no país) assassinem gays, depois de torturá-los com crueldade. Alguns criminosos encontrando o perdão dos pais e da sociedade e contando com a negligência da polícia e da justiça.
Em Mossoró, em 2006, foram três os homossexuais assassinados, sempre com muita crueldade. As famílias devem saber que o crime homofóbico começa em casa, na educação familiar que trata, em muitos casos, os próprios filhos homossexuais com desprezo, ameaças, chantagens, ou expressando preconceito com a homossexualidade como tal.Somente uma educação social nova, que elimine o preconceito em torno da homossexualidade, evitará os assassinatos praticados pela fúria homofóbica. Augusto foi vítima da educação homofóbica de nossas famílias, mídias, escolas e igrejas, que, em geral, concorrem para formar jovens e adultos preconceituosos e violentos quando se trata da relação com os homossexuais. Deve-se saber que, igualmente como a heterossexualidade ou a bissexualidade, a homossexualidade é uma expressão sexual saudável, nada tendo de anormal, não havendo razão para se reprimir ou condenar uma modalidade da sexualidade humana que toma a forma cultural do desejo, do amor, das relações afetivas em casamentos duradouros ou em relações descontínuas ou ocasionais.
Os gays, lésbicas e travestis do RN devem se organizar e lutar contra as formas visíveis e invisíveis do preconceito anti-homossexual ainda fortemente existente e, através de suas ONGs, devem apelar aos novos parlamentares federais do RN eleitos que sigam os exemplos das deputadas Fátima Bezerra e Sandra Rosado, filiando-se todos à Frente Parlamentar pela Livre Expressão Sexual, que tem encaminhado importantes projetos de instituição dos direitos (ausentes) dos homossexuais brasileiros, e que podem contribuir com o fim da homofobia assassina no nosso país.
LUIZ MOTT

FONTE:
http://www.athosgls.com.br/noticias_visualiza.php?contcod=18935

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