domingo, fevereiro 18, 2007

PENSAR POR SÍ MESMO

PENSAR POR SÍ MESMO

 

 Autor: Francisco Paulo

Neste texto, como o próprio nome sugere, Schopenhauer descreve a importância de pensar por si mesmo, ou seja, adquirir conhecimento através dos seus próprios neurônios. "... la masa mayor de conocimientos, si no há sido elaborada por el pensamiento original, vale mucho menos que uma masa menor varias vezes asimilada.", isto é, o conhecimento adquirido através do próprio esforço mental vale muito mais  do que o conhecimento adquirido por meio de terceiros.

Schopenhauer descreve no decorrer das linhas de seu livro dois tipos de pessoas, os eruditos e os gênios. Os primeiros são aqueles que lêem vários livros, vivem da leitura, são exímios conhecedores da literatura, enquanto os segundos são os legítimos pensadores, os que têm algo a ensinar a humanidade, são os que lêem diretamente no livro do universo, folheiam a natureza ao invés de folhearem páginas de livros. Em suma, os gênios observam a natureza, desenvolvem seus pensamentos e passam para livros todo seu conhecimento, livros esses que serão lidos pelos eruditos.

A leitura nada mais é do que um "remédio" para aqueles que têm preguiça de pensar, é um sucedâneo do pensamento pessoal.  A convicção de Schopenhauer, quando afirma que devemos ter pensamentos próprios é tanta, que ele compara o ato de rejeitar pensamentos originais em troca de livros, com um pecado contra o Espírito Santo.

A verdade adquirida pelo pensamento próprio, original, é como um elemento do próprio ser, enquanto que o conhecimento adquirido através de outrem é comparado como um membro enxertado, é uma parte de outro misturada ao nosso ser.

Schopenhauer faz uma analogia interessante, ele diz que uma pessoa que busca conhecimento pelos livros é a mesma pessoa que conhece um país através de uma revista de agencia de viagens, posso conhecer virtualmente todos os Estados Unidos, saber detalhes de sua estrutura social, política, seus pontos turísticos, porém, aquele que verdadeiramente conhece tal país é aquele que lá esteve e por si vivenciou o clima, a terra, as conexões de informações que somente lá existem. Aquele que verdadeiramente conhece o mundo é aquele que vive o mundo, os que tentam conhecer através da literatura têm acesso a meras descrições.

Parece hilário, mas aquele que lê filosofia, aquele que busca conhecer "o que há", "o que é" através dos livros, irá acabar em uma discussão inútil, irá debater, por exemplo, se Leibniz era ou não spinozista. Ao invés de buscar a luz com sua reflexão própria, ao invés de refletir sobre o mundo, ou formular teorias, como o próprio Leibniz fez outrora, acabam por cair no ridículo de discutir e classificar filósofos em escolas, ou grupos.

Não devemos deixar de ler, a leitura é importante fonte de conhecimento. Não devemos é nos apegarmos em demasia à literatura e dar-lhe primazia a busca do conhecimento pela própria analise do que observamos e pensamos propriamente. Não podemos acostumar nosso espírito com longos períodos de leituras ininterruptas, pois ele pode se acostumar, e como conseqüência, perderá a capacidade de pensar por si mesmo.

Esses, que preferem a leitura de livros a pensar por si mesmos, os chamados eruditos, acabam viciando seu espírito com a literatura e o estupidificam. Eles lêem tanto que acabam ficando estúpidos, bobos, perdem a capacidade de ter pensamentos próprios e originais, são capazes apenas de copiar, perdem a capacidade de pensar. Para construir sua filosofia e escrever seus livros, Schopenhauer também pesquisou a literatura de outros filósofos e, sobretudo, observou a natureza, sua filosofia não é mera cópia ou plágio.

É importante ler os outros grandes autores, porém não demasiadamente, para que eu não perca em nenhum momento o contato com o mundo real, e de gênio passe para erudito, ou, o espectador literário. O erudito tem apenas representações abstratas, ou seja, conhece única e simplesmente os conceitos, enquanto o gênio acessa as representações intuitivas, ou seja, observa o concreto, e dele tira suas próprias conclusões, pensa por si.

O gênio é como um monarca, não aceita ordens, e faz mais, dá as ordens.  Seus juízos, como as leis do monarca, emanam de seu poder supremo, sua capacidade, procede diretamente dele, não precisam de intermediários para existir, só admite aquilo que pode provar ele mesmo. Do outro lado, existem aqueles que não tem opinião, aqueles que precisam ler algo para ter o que dizer, não pensam por conta, precisam que alguém pense antes para que possa tomar essa opinião como sua.  

"Em matéria de pensamento, só tem verdadeiro valor aquele que é pensado para si mesmo." . Após proferir essa frase, Schopenhauer divide os pensadores em duas classes: os que pensam para si mesmo e os que pensam para os demais. Os primeiros são os filósofos, que tem alegria, vivem para pensar, os outros são os sofistas, que buscam o glamour, querem brilhar, querem proferir frases de efeito, sem que haja preocupação com a veracidade delas, seu objetivo é a fortuna.

É fácil de entender, enquanto filósofo eu penso para mim, e eu não vou querer ter pensamentos falsos, não há algum interesse nisso, pois como sou amante do pensar, da sabedoria, e tenho como meta os pensamentos verdadeiros, quero descobrir a verdade sobre o mundo, não tenho por que mentir, bem pelo contrario. Já o sofista está interessado no dinheiro, no quanto ele pode ganhar defendendo os interesses dos comandantes capitalistas de sua época, pouco importa a verdade, é mais interessante uma mentira bem paga.

O homem é um animal como os outros, vive para consolidar sua existência. É bom ter cuidado com o que ouvimos, precisamos filtrar o conhecimento que querem nos passar através dos livros, para que não caiamos no vai e vem da moda e nos esqueçamos da verdadeira filosofia, do verdadeiro ensinamento.

 



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