sábado, fevereiro 17, 2007

No desequilíbrio dos mares

No desequilíbrio dos mares 
 
Cecília Meireles
 

 
No desequilíbrio dos mares, 
as proas giram sozinhas... 
Numa das naves que afundaram 
é que certamente tu vinhas. 

Eu te esperei todos os séculos 
sem desespero e sem desgosto, 
e morri de infinitas mortes 
guardando sempre o mesmo rosto 

Quando as ondas te carregaram 
meu olhos, entre águas e areias, 
cegaram como os das estátuas, 
a tudo quanto existe alheias. 

Minhas mãos pararam sobre o ar 
e endureceram junto ao vento, 
e perderam a cor que tinham 
e a lembrança do movimento. 

E o sorriso que eu te levava 
desprendeu-se e caiu de mim: 
e só talvez ele ainda viva 
dentro destas águas sem fim.

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