quinta-feira, abril 12, 2007

COMO ESTÃO NOSSAS ESCOLAS - OTANILMA S. PIMENTA

Como estão nossas escolas?

Transcrito do Jornal Correio da Tarde em 12 de abril de 2007 - Coluna Artigos
http://www.correiodatarde.com.br/artigos/15552
 
Otonilma S. Pimenta
Professora


No atual contexto a Escola necessita realizar três tipos de alfabetização, e a que não atender estas exigências é retrógrada. Assim diz Assman:

"São três os analfabetismos por derrotar hoje: o da lecto-escritura (saber, ler e escrever), o sócio-cultural (saber em que tipo de sociedade se vive, por exemplo, saber o que são mecanismos de mercado) e o tecnológico (saber interagir com máquinas complexas). Toda escola incompetente em alguns desses aspectos é socialmente retrógrada". ASSMAN, 1996, p. 22. (grifo nosso).

Depois que você leu essa afirmação, como define as nossas escolas?

A sociedade contemporânea dominada pelos avanços científicos, trouxe ao planeta dimensões de aldeia. Nestas circunstâncias, exige-se a formação de um cidadão planetário, que domine habilidades de leitura e possua competência para usá-la com fins de garantir uma qualidade de vida numa concepção coletiva, interagindo positivamente nos mais variados tipos de relações sociais e na utilização de mecanismos usados na sociedade, com o domínio das técnicas e das máquinas modernas.

Atender as exigências da atual sociedade através do seu projeto político pedagógico é um importante desafio para as escolas, pois devem oferecer ao aluno uma alfabetização com uma tríplice dimensão. Mas, para a escola atender essas exigências é preciso que haja profundas mudanças na sua estrutura organizacional e na política educacional do nosso país. Entendo que, isto também refletiria sobre os investimentos na formação continuada do professor, além de outros fatores relacionados aos resultados do processo de ensino e aprendizagem, como as circunstâncias sociais, econômicas e políticas.

A grande discussão é: como podem as escolas atender essas três dimensões da alfabetização se nas ultimas avaliações do MEC os objetivos de leitura e de interpretação de textos não foram satisfatório? Como ensinar os alunos a interagir com máquinas, se muitos docentes não têm acesso ao computador, nem dominam habilidades ou competências para utilizá-lo? Penso ser essa realidade resultante da política salarial da educação. Muitos docentes depois de uma longa e penosa trilha universitária, agora graduados vêem seus sonhos frustrados, pois seus rendimentos são insuficientes para atender as necessidades vitais e não favorecem uma formação continuada.

É necessário que toda sociedade se preocupe com a qualidade da educação no Brasil. Nossa sociedade está caracterizada pela desigualdade social, corrupção, falsidade e desonestidade. Creio que isto é reflexo do nosso contexto político, onde essas atitudes são tão freqüentes que já não nos causam qualquer surpresa. Vivemos um momento de anomalia social, onde os valores e critérios sociais estão sendo substituídos pelos supérfluos desejos de uma sociedade consumista, ambiciosa e rica em injustiças.

Nesta sociedade caracterizada pelos avanços da comunicação e da informação, os conflitos sociais são constantes e presentes em todos os lugares do mundo globalizado. É neste contexto que a educação tem um valoroso papel a desempenhar: a formação do ser livre. Um ser que contribua para a construção de uma sociedade autônoma, alicerçada em princípios democráticos e participativos. Só a escola seria o instrumento da construção e reprodução dessa sociedade. Como e quando as nossas escolas despertarão para o seu potencial?

Assim sendo, uma vivência democrática é prioridade. Todos os cidadãos necessitam da conscientização de que é preciso mudar. Seria uma forma de se otimizar a ação individual para se obter os resultados desejados, uma vez que a instituição responsável por essa formação encontra-se também num processo de adequação à nova realidade. Que este aprendizado coletivo fundamentado nos princípios éticos, permita que todos os segmentos sociais democraticamente representados pelos colegiados, promovam as mudanças e as transformem numa cultura permanente, produzindo uma realidade justa, onde o compromisso do cidadão comece pela responsabilidade da escolha dos seus governantes.

Muito se leu e ouviu sobre os resultados da avaliação do sistema de educação no Rio Grande do Norte. Entendo ser necessário e importante ressaltar que este fruto colhido agora, não é unicamente resultado dos últimos plantios, é colheita de semeaduras mais antigas, quem sabe de alguma "monocultura" que ninguém quer assumir. Na educação a colheita não é imediatista. O resultado vem a longo e médio prazo. Esses resultados são preocupantes e exigem mudanças de atitudes.

Basta de tantos programas e eventos que mobilizam profissionais e setores da educação, com interesses e objetivos implícitos, que nada tem a ver com nossa necessidade. Creio que os professores deveriam ser ouvidos diante dessa realidade.



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