sexta-feira, abril 06, 2007

O MITO DA RESSURREIÇÃO - DRª ELAINE PAGELS

O MITO DA RESSURREIÇÃO

Dra. Elaine Pagels – catedrática do Departamento de Religião do Barnard College da Universidade de Columbia:

“Jesus Cristo ressuscitou”. Com essa proclamação nasceu à igreja cristã.

“Esse talvez seja o elemento fundamental da fé cristã; por certo é o mais radical. Outras religiões celebram ciclos de nascimento e morte: o cristianismo insiste que, num dado momento histórico único e singular, o ciclo se inverteu e um homem morto voltou à vida! Para os seguidores de Jesus, esse foi o ponto crítico da história do mundo e o sinal de que seu fim estar por vir. Desde então, os cristãos que se atêm à ortodoxia têm confessado em seu credo que Jesus de Nazaré, “crucificado, morto e sepultado”, ressuscitou “no terceiro dia”. Hoje muitos receitam esse credo sem pensar no que estão dizendo, alguns ministros, teólogos e estudiosos começaram a contestar essa leitura literal da ressurreição; e, para justificar tal doutrina, ressalta a atração psicológica que ela exerce sobre nossas esperanças e nossos medos mais profundos; para explicá-la, oferecem interpretações simbólicas.”
Mas boa parte da tradição primitiva insiste literalmente que um homem – Jesus – voltou à vida. O que torna esses relatos cristãos tão extraordinários não é o fato de os amigos de Jesus o terem “visto após sua morte – histórias de fantasmas, alucinações, e visões eram ainda mais comuns naquela época do que nos dias de hoje. – e sim o de terem visto um ser humano de verdade. Segundo Lucas, a princípio os próprios discípulos, estupefatos e aterrorizados diante do aparecimento de Jesus em meio a eles, imediatamente supuseram estar diante do seu espírito. Mas Jesus insistiu: “Apalpem-me e entendam, pois um espírito não tem carne e ossos, como podem ver que tenho”. Como permanecessem incrédulos, ele pediu algo para comer; e, enquanto observavam-no maravilhados, Jesus comeu um pedaço de peixe assado. A mensagem é clara: nenhum espírito ou fantasma seria capaz disso.
Se houvessem dito que o espírito de Jesus continuava vivo, que ele havia sobrevivido à corrupção do corpo, seus contemporâneos talvez achassem que tais histórias fizessem sentido. Quinhentos anos antes, os discípulos de Sócrates haviam afirmado que a alma de seu mestre era imortal. Mas o que os cristãos declaravam era diferente e, em termos usuais, totalmente implausível. O caráter definitivo da morte que sempre fora parte da experiência humana, estava sendo transformado. Pedro contrasta o rei David, que morreu e foi enterrado, e cujo túmulo era bem conhecido, com Jesus, que, apesar de morto, ressuscitara do seu túmulo, “pois não era possível que ele fosse retido em poder da morte”. Lucas afirma que Pedro exclui interpretações matafóricas para o acontecimento que disse haver testemunhado: “Nos comemos e bebemos com ele após sua ressurreição entre os mortos”.
Prossegue Pagels em um outro trecho de sua explanação dizendo: “No entanto, alguns cristãos – aqueles que ele chama hereges – discordam. Sem negarem a ressurreição, eles rejeitam uma interpretação literal; alguns consideram tal interpretação ‘extremamente repulsiva e impossível’ . “ Conforme podemos perceber, algumas facções cristãs interpretam a ressurreição de diversas maneiras. Alguns afirmam que a pessoa volta à vida; antes encontra-se Cristo num plano espiritual. Isso pode ocorrer em sonhos, êxtases, em visões ou em momentos de iluminação espiritual. Precisamos prestar atenção também no que diz Lucas e Marcos onde os vemos contar que Jesus apareceu “em outra forma” ´não a sua forma terrena anterior, a dois discípulos que caminhavam na estrada para Emaús. Lucas diz que esses dois discípulos, profundamente perturbados pela morte de Jesus, conversaram com um forasteiro, aparentemente durante várias horas, e o convidaram para jantar. Só quando o estranho sentou-se em sua companhia para abençoar o pão é que subitamente o reconheceram como sendo Jesus. Nesse momento, porém, “ele ficou invisível diante deles”. Imediatamente antes da passagem sobre a incredulidade de Tomé, João inclui outro episódio muito diferente: Maria Madalena, chorando por Jesus perto do sepulcro, vê um homem que ela confunde com o jardineiro. Quando ela a chama pelo nome, Maria subitamente reconhece a presença de Jesus – mas ele a ordena que não o toque.
O próprio Paulo não aceitava a ressurreição de Jesus como um dado histórico, mas apenas uma exigência de fé, posta em dúvida por muitos de seus seguidores.
Toda a evidência que possuímos demonstra que não havia qualquer pensamento de ressurreição nas mentes dos discípulos, e que eram homens desesperançados na noite da primeira Sexta-Feira após a crucificação de Jesus. A manifestação de Jesus aos discípulos após a morte e sepultamento, constitui um problema que o conhecimento espírita pode explicar e que certamente contraria o pensamento da Ressurreição. Como vimos o problema da Ressurreição é muito grave do ponto de vista teológico, tão grave quanto a possibilidade de Jesus não ter sido batizado por João nas águas do rio Jordão como querem fazer supor alguns historiadores – João teria sido decapitado cerca de duas semanas antes de seu encontro com Jesus ter acontecido. Sem esses dois pressupostos toda a doutrina cristã se esfacela.
FONTE: http://www.espirito.com.br/portal/artigos/diversos/evangelho/jesus-o-homem-ii.html

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