quinta-feira, dezembro 13, 2007

Pesquisa mostra que leis facilitam ausência de professores em escolas

Pesquisa mostra que leis facilitam ausência de professores em escolas

Elas permitem que profissionais faltem muito, sem que tenham perda nos salários.Alunos contam que é comum ficarem sem aulas durante o ano letivo.

Fim de ano e muitas escolas já encerraram as aulas. Mas esta realidade de mesa do professor vazia, sala sem alunos, foi muito comum durante o ano em várias escolas estaduais. Uma pesquisa da Fundação Leman, instituição voltada à educação, mostra que a ausência de professores é facilitada pelo estatuto dos servidores estaduais e por uma lei complementar de 2000. Elas permitem que os professores faltem muito no trabalho, sem que tenham perda nos salários.

Veja o site do SPTV

A advogada Ana Carolina Pellegrini Monteiro participou do estudo e diz que o professor pode, por exemplo, faltar metade do ano letivo por motivos de saúde, desde que seja em dias alternados e com atestado médico. “Pode ser doença de familiares, pais, filhos e irmãos. Então, se você tem um ano letivo de 210 dias, o professor poderia faltar 105, sem desconto”, disse.

Julio César, de 17 anos, está no 2º ano do Ensino Médio e quer prestar vestibular em 2008. Mas tem pouca esperança de entrar na universidade. Ele estuda em uma escola da Zona Sul da capital e acha que não tem condições de concorrer com os outros candidatos. “Algumas vezes o professor ficava sentado e não passava matéria. Mandava ficar sentado, conversando, deixava jogar dominó na sala.”

Iago, de 11 anos, está na 5ª série, na mesma escola. E enfrenta problemas iguais. “Ciências a gente teve algumas aulas, a professora vinha. Ela se afastou, voltou, se afastou de novo e não veio mais. A gente chegava pra diretora e falava, diretora, cadê nossas professoras? Ah, elas se afastaram porque estão doentes”, contou.

As aulas vagas também são rotina em Parelheiros, na Zona Sul, e na Vila Progresso, Zona Leste. “Aqui quase todo dia a gente sai cedo. Três dias por semana, sai depois do intervalo, duas aulas antes, fica só nisso”, disse Henrique, de 14 anos, aluno da 8ª série.

Em alguns casos, os professores faltosos foram substituídos. “Ás vezes tinha substituto, passava lição, mas não explicava, porque não tava qualificado para aquilo que estava passando”, disse Alan, de 15 anos, aluno da 8ª série.
“Eles passavam texto, que não tinha nada a ver com a matéria, mas passava”, afirmou Raíssa, estudante da 7ª série. “Vem o substituto, não acompanha o que o outro passou, o outro não deixou pauta para ele fazer, a criança se perde”, completa Anderson Soriano Lima, pai da Raíssa.

O ano letivo está no fim e alguns estudantes reclamam que ficaram sem nota, por falta de aulas. A diretora da Escola Estadual Professor Karan Aparecido Gonçalves, no Jardim Casa Blanca, Zona Sul, diz que, todo dia, quase 20% dos professores faltam às aulas. “Eu preciso decidir para qual turma esse professor faltoso vai ministrar aula. A gente acaba fazendo opção pelo professor menos faltoso nas séries finais, porque os alunos vão prestar vestibular”, diz Adriana Araújo da Silveira.

Para o presidente do Sindicato dos Professores de São Paulo (Apeoesp), Carlos Ramiro de Castro, os professores faltam demais por causa das más condições de trabalho. “O próprio professor não é estimulado para que ele possa se atualizar, se aperfeiçoar, produzir, não ser tão faltoso. Isso acaba fazendo com que o professor procure outro setores do mercado pra poder sobreviver”, afirma.

Para a advogada Ana Carolina Pellegrini Monteiro, as facilidades das leis estaduais contrariam a própria constituição. “A constituição federal prevê a qualidade da educação, e do outro lado você tem o interesse particular o do professor, prevendo que ele pode faltar dia sim, dia não. Então, certamente o que deve prevalecer é o interesse público, a qualidade da educação.”
FONTE: http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL216584-5605,00.html

Nenhum comentário: