terça-feira, janeiro 16, 2007

ORAÇÃO DO ALUNO ESPECIAL


ORAÇÃO DO ALUNO ESPECIAL

Publicado no jornal Gazeta do Oeste Suplemento Escola em 18/10/2006



Martha Cristina E. Maia
Professora

Senhor, tua criação é perfeita. Todos os dias podemos contemplar o milagre da vida se renovando. Tudo acontece de novo e tudo é absolutamente novo.
Cada ser que habita o universo surge com suas características próprias.
Não há no mundo duas criaturas idênticas, e quanto mais se desenvolve e convive com outras pessoas, vão ganhando um novo jeito de ser e de existir.
Tua criação é perfeita, e nessa perfeição, convivemos com aqueles que têm diferenças. São pessoas que ouvem menos ou nada ouvem, que enxergam pouco ou não enxergam, que não falam ou falam de tantas outras maneiras, que nascem ou desenvolvem um tipo de limitação que atinge alguns de seus órgãos, isso não o que fazem menores ou menos belos, são apenas diferentes.E diferentes são todos aqueles que se aventuram nessa jornada da existência humana, alguns escolhem ser chamados de pessoas com necessidades especiais, e eles têm, sim, necessidades especiais, e que todos nós temos que precisam ser supridas de alguma maneira e somos carentes. Todos nós carecemos de atenção, ternura e afeto, carecemos que outros humanos enxerguem em nós possibilidades, muitas vezes pessoas que nos confundem com patinhos feios, mas convido a mirar nossa imagem no lago onde somos cisnes.Não somos feios ou esquisitos, somos diferentes grupos que não podiam perceber nossa diferença e nossa beleza. Somos belos todos nós... Cada um a seu modo, porém belos... Não carecem de pena aqueles que são limitados por algum motivo, não carecem de sentimentos mesquinhos, mas carecem de dignidade, aceitação e respeito, de espaço para que se sintam utéis e possam estudar e trabalhar e viver a sua intensidade da vida.

Crianças com síndrome de down, como são carinhosas e autênticas. Quem as conhece, as ama e conta belíssimas estórias de amor e gostam tanto de abraçar, e cantam, dançam e riem, parecem não se deixar contaminar com disputas mesquinhas que separam as pessoas e ferem sentimentos. Quando, entretanto, essas crianças são rejeitadas, e não quiseram os pais entenderem que elas eram especiais por poderem conviver com essas jóias, porém o triste abandono. Os alunos que freqüentam as escolas, as crianças que se alvoroçam diante do novo, elas não são preconceituosas, com certeza saberão conviver com o diferente de forma solidária. Como é bonito perceber o intuito de presença e solidariedade dos colegas que se dispõem a empurrar a cadeira de rodas, ajudar aqueles que mesmo cheio de luz não conseguem enxergar o seu material. É assim que o tempo se torna seu grande aliado da aprendizagem para todos. Porém para todos aqueles que são capazes de aprender...Tua criação é perfeita senhor... E nessa perfeição percebemos as diferenças convivendo com as barreiras, as que existem são simples de serem transpostas, as mais difíceis são aquelas que teimam em habitar as almas dos que se sentem superior. Triste sentimento, mas a ausência dele... Triste discurso dos pais e mães que, ignorantes de amor, ensinam os filhos a tomarem cuidado com tudo o que for diferente... Diferente por ter outra cor ou cabelo, que vive em outro Estado ou país ou por comungar de outra religião, ou menos dinheiro no banco.

Esses pais são verdadeiramente cegos e surdos de espírito, tem todos os sentidos e por sua vez não tem o menor sentido. Tua criação é perfeita, senhor... É nessa harmonia que faço essa oração e que ninguém se sinta excluído, diminuído ou marginalizado... Que ninguém se sinta sozinho por falta de amor. Que ninguém se dê ao direito de magoar e que ninguém seja magoado. Tua criação é perfeita, senhor... E nessa criação eu agradeço o dom da sensibilidade de perceber que é muito bom viver no mundo dos indiferentes.Isso nos faz mais humanos e sensíveis e felizes. Isso nos faz sentirmos sensível a tua presença em nós, e a cada instante em nossas vidas. Amém.Depois dessa linda oração quero dizer ao querido leitor que, como professora, trabalhei o projeto inclusão no Colégio Evangélico com a turma de 2º ano e quero compartilhar um pouco duas cartinhas dos pequenos que fizeram aos especiais..."Olá, amigos. Como vocês estão levando a vida? Não fiquem tristes porque perderam as pernas, perderam as pernas e não a vida. Vocês têm uma linda vida pela frente, o seu sonho não morreu. Hoje em dia existem carros adaptados pra vocês, graças a Deus, e a tecnologia, e ainda vamos apostar uma corrida juntos heim... Abraços. Layrone".



OUTRA CARTINHA


E a outra cartinha foi escrita por Nayany Paula, que diz que tem um primo que tem síndrome de down. "Ele chama-se Caliby e tem 10 anos. Ele não sabe brincar e nem escuta, mas eu tenho muita vontade de brincar com ele, mas ele não entende de brincar... Ele é muito sensível e tem muita facilidade de ficar doente, é nessas horas que tenho muito dó dele. Olha, minha tia cuida muito bem dele e nós temos muito carinho por ele. Ele é muito especial na nossa vida. Vou finalizar com muito amor e feliz por ele fazer parte de nós. Beijos e abraços para todas as crianças que são diferentes." Os alunos fizeram entrevistas com os especiais e contei o testemunho da aluna Benomia Maria Rebouças, do curso de pedagogia,,que nasceu com uma doença congênita chamada osteogênes imperfeita, e conhecida popularmente como ossos de vidro.Ela teve uma infância muito sofrida devido as várias fraturas, mas nada que pudesse diminuir a sua vontade de viver e ser feliz. com 5 anos de idade perdeu o seu pai e foi criada pela mãe e uma irmã. Foi alfabetizada em casa por sua mãe, porém sua maior vontade era estudar em uma escola. "Mostrava pra minha mãe que eu tinha o direito de estudar como qualquer criança, mas a mãe de uma criança com deficiência superprotege o seu filho, ela não aceitava. Porém isso não foi empecilho pra eu desistir... Só que com muito custo ela aceitou e daí começou o preconceito das escolas em me aceitar. Batemos em várias portas e recebemos muitos nãos. 'Não podemos aceitar a sua filha, pois os professores não estão preparados', mas mesmo assim eu não queria desistir. Um dia numa missa conheci Jandira (assistente social da APAE). Estudei um ano lá, mas o ensino da APAE era alfabetização e eu já era alfabetizada, mas valeu, foi uma boa experiência. Quando saí fiquei sem estudar, pois a escola que aceitava crianças com deficiências ficava longe da minha casa. Mas mesmo assim não desistia dos sonhos de terminar os meus estudos e, quem sabe, chegar a uma universidade.

Depois de muitos anos, já na idade adulta, conheci um amigo de minha irmã que tinha deficiÊncia física e participava da ADEFIM, e me convidou a participar de um ato público na praça do mercado. Foi aí que eu conheci alguns dos grandes amigos que hoje tenho. Terminei o primeiro e segundo grau no supletivo e com muito esforço cheguei a universidade passando em primeiro lugar no curso de pedagogia. Hoje estou em uma nova etapa da minha vida, e a meta agora é terminar a universidade e entrar no mercado de trabalho. Hoje a minha vida mudou completamente, apaixonei-me pelo movimento de pessoas com deficiências e sem ele eu não vivo. Lutar pela inclusão não é nada fácil, se não tiver o apoio da sociedade e do poder público. Eu hoje tenho uma convicção de que eu vim ao mundo com essa deficiência por ter uma missão para cumprir, levantando a bandeira da inclusão, do preconceito sobre o negro, o soropositivo, o albino ou sobre qualquer que sofra discriminação. Não quero levantar só a minha bandeira, mas sim todas as bandeiras que eu tiver pra levantar e gritar".

Amigos leitores, façam uma reflexão de tudo o que você acabou de ler. Oh, Deus, tua criação continua perfeita nesse lindo amanhecer... Até aqui o Senhor nos ajudou... Crianças especiais... Feliz Dia da Criança! E aos meus queridos alunos do Evangélico (Mossoró), Jesus te ama e eu também... tia Martha

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