sábado, julho 07, 2007

QUERERES - CAETANO VELOSO

Caetano Veloso

 

Um encanto esse filho de Dona Canô e Seu Zezinho, nascido em Santo Amaro da Purificação, BA, em 07 de agosto de 1942.

Caetano Veloso é um incansável inventor de arte que nossa imaginação jamais poderia perceber, buscando o intangível e o inatingível, retirando sons, gestos e palavras do mais árido território, capaz de traduzir o concreto, a dor, um jeito, uma paisagem ou pessoa na mais variada e sutil percepção da existência.

Revolucionário em sua poesia nos presenteia com fraseados sonoros que movem nossa alma fazendo-nos vibrar - e consegue mostrar a importância não somente de estarmos vivos como também de que podemos/devemos fazer pela vida.

Caetano nos toca sutilmente com a arte de parâmetros próprios, renovando a linguagem artística, musicando poesias concretas, poetizando sons de timbres desconexos e criando a estética musical.

O que mais impressiona neste "baiano-estrangeiro" de Santo Amaro da Purificação (como bem disse Augusto de Campos), é sua capacidade de mostrar as possibilidades da música provocando verdadeiros curtos-circuitos sociais.

Caetano é a "mais completa tradução" da transformação, de tempo e espaço.

é

O quereres

 

Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta, e onde voas bem alta eu sou o chão
E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão

Onde queres família sou maluco, e onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco, e onde queres eunuco, garanhão
E onde queres o sim e o não, talvez, onde vês eu não vislumbro razão
Onde queres o lobo eu sou o irmão, e onde queres cowboy eu sou chinês

Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato eu sou o espírito, e onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre decassílabo, e onde buscas o anjo eu sou mulher
Onde queres prazer sou o que dói, e onde queres tortura, mansidão
Onde queres o lar, revolução, e onde queres bandido eu sou o herói

Eu queria querer-te e amar o amor, construírmos dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou
E te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és

Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper vídeo, e onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua eu sou o sol, onde a pura natura, o inceticídeo
E onde queres mistério eu sou a luz, onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro, e onde queres coqueiro eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim
E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mim

 

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