sábado, julho 21, 2007

Uma simples professora

Uma simples professora

Martha Cristina E. Maia
Professora
marthacristinamaia@hotmail.com

Ao iniciar este artigo, ofereço esses versos de patativa do Assaré a todos os professores do Brasil e do mundo.
Neste momento oportuno/vou dizer a cada aluno/que estude constantemente/sem tirar de sua mente/o seu livro e o professor. Com muita certeza digo/é ele o seu grande amigo/que na vida lhe conduz/é seu grande protetor/quem vive sem professor/vaga nas trevas sem luz. Ele na sua missão/no setor da educação/posso muito bem dizer/que é o meu melhor companheiro/mais fiel e verdadeiro/que nos ajuda a vencer. Com muita simplicidade/aí vai esta verdade/de um poeta agricultor na referência que faço/envio um fraterno abraço para cada professor.
Conheçam a vida de uma "simples professora", de seus esforços, modo de viver, tipos de leitura, precisa conhecer e entender as verdades, pessoas, fatos aos quais atribuo forças no meu caminhar. Pena que vocês não sabem a importância de um educador.
Dorinha Nowill, professora cega, diz: "O mundo depende dos mestres para despertar nos alunos a compreensão que pode gerar a verdadeira paz e justiça entre os homens". "Quem se imagina pronto limita seus passos e se condena ao envelhecimento".
Philippe Perrenoud nos diz: "transmitir conhecimento é uma honra e um dever". Educar é... fazer com que as gerações aprendam a respeitar o ser humano.
Vejo-me no texto (homenagem àquele que sempre busca dar um sentido a sua vida que ofereço ao leitor com carinho). Sobre as grandes dunas que circundavam a pequena ilha existiam inúmeros cajueiros, dentre eles destacava-se a pequena ilha onde existiam inúmeros cajueiros, que se destacavam-se pelo garbo de sua copa e pelo sabor de seus frutos. Ele era conhecido como Ervil, e todos os vegetais de sua espécie o admiravam pelas suas extraordinárias qualidades. Porém, independentemente da posição que gozava no seio da comunidade, não se sentia feliz. A admiração que lhe devotavam nada significava. Desejava algo mais do que aquilo. Buscava alguma coisa, imaginava sempre algo novo no seu amanhã.
Todos os dias ao pôr-do-sol, Ervil chamava aquela que o tinha concebido. E a natureza finalmente ouvindo suas súplicas o atendeu.
- Que tens meu filho? Que te falta?
- Mãe! Ouvistes minhas súplicas! Que bom!
- Que sentes?
- Mãe, o desespero invade-me a alma e um desejo imenso resseca-me as folhas.
- Desejo de quê, meu filho?
- De transformar-me num ser do mar. Por favor, não negues o meu pedido! Faz-me livre como as ondas! Transforma-me as raízes em aletas, as folhas e o tronco em corpo de peixe.
- Queres viver nas profundezas do mar?
- Não, gostaria de viver no mar, mas não nas profundezas, não gosto de escuridão e adoro a luz do sol.
- Vejo que tens dentro de ti anseio de liberdade, vou satisfazer o teu desejo.
- E a natureza transformou Ervil em um delfim inteligente, alegre e peralta.
Que felicidade a de Ervil. Como delfim viajou por todos os mares, sentiu as águas geladas dos pólos e as tépidas do Equador. Conheceu as fabulosas marés da nova Escócia, as loucas ondas palawau nas Filipinas, as irrequietas águas do mar de Gol e o tempestuoso Cabo de Boa Esperança. Viu de perto as tempestades que tanto amedrontavam os homens e os maremotos que tudo destroem. Mergulhou em belíssimas florestas de algas marinhas. Maravilhou-se com palácios multicores, ilhas e outras construções dos pequenos obreiros do mar, os corais. Mas Ervil sempre continuava procurando descobrir coisas novas. E por todos os locais por onde andava, procurava fazer grandes amigos e a todos ajudar. Por onde andava a todos cativava.
Um dia estava Ervil sobre um rochedo a conversar com uma estrela-do-mar quando ao seu lado pousou um albatroz. Ervil sentiu então dentro de si um louco desejo de voar, desejo de conhecer a plenitude dos ares, a magnitude do infinito sem barreiras. Com o passar dos dias a vontade de voar aumentava mais e mais, ficava apreciando as suaves evoluções das aves marinhas. Finalmente, não agüentando mais o desejo que lhe corroía as entranhas, apelou novamente para a sua mãe natureza, e ela mais uma vez atendeu as suas súplicas.
- Que queres agora de mim? Estás cansado de ser delfim? Queres voltar a ser cajueiro?
-Não, mãe! Fui imensamente feliz como cajueiro e como delfim, mas gostaria de ser um albatroz... Quero conhecer os céus, sentir o ar... voar pra bem longe!
- Hummm... jamais eu encontrei alguém tão inquieto como tu, retrucou a natureza.
E a natureza atendeu mais uma vez a vontade de Ervil, porém não contentou-se em ser um albatroz comum, aprimorou a arte de voar como nenhum outro de sua espécie havia feito até então.
Mas a vida é imprevisível, ao aproximar-se das dunas, um tiro perdido o acertou e ele despencou estatalado no meio dos cajueiros.
Um velho cajueiro, despido com folhas e troncos carcomidos pelo cupim, dirigiu-se aos mais jovens, dizendo-lhes:
- Vejam, vejam, e aprendam com o que ocorreu com aquele que trocou a segurança da terra pela instabilidade dos mares e pela volúpia dos ares. Que lhes sirva de lição; quem muito procura, o pior sempre encontra.
Ouvindo essas palavras, Ervil, arquejante, apelou para o restante de suas forças e assim lhes falou:
- Estúpidos, letárgicos seres. Fui cajueiro, mas não contentei-me em ser apenas um cajueiro vulgar como tantos outros. Nunca houve frutos tão doces quantos os meus, nem sombra mais acolhedora que a minha. Matei a fome e a sede de muitos. Como delfim salvei vidas humanas da sanha dos tubarões, levando náufragos até a costa, e vocês o que fizeram? Sempre se contentaram em ser normais, mediocremente normais. Egoisticamente normais, pensando sempre em sugar a água do solo, dando muito pouco e buscando tudo sem retribuição. A vida toda vegetaram nessas dunas áridas, sempre terrivelmente acomodados. Inércia total. Nunca pensaram ou procuraram, simplesmente vegetaram. Imbecis! A estagnação de idéias e pensamentos é a causa primeira da destruição interior. Por dentro vocês não existem. São tão ressequidos como as cascas dos seus troncos. Nem ao menos tiveram a coragem de serem bons cajueiros. Quanto a mim, vivi! Vi o mundo pelos olhos dos peixes, das aves, das plantas, senti o calor do sol em minhas folhas, a água em meu corpo, o vento em minhas asas, voei para a vida, mergulhei para as tempestades, descobri a beleza universal. O belo não está na terra, no céu ou no mar separadamente, e sim, nos três conjuntamente. Morro, agora levando dentro de mim três vivências, três experiências inabaláveis que me deram profundo conhecimento desta maravilha chamada vida... morro, mas renascerei novamente em outra forma, pois minha procura será eterna. Sou uma professora e agradeço a Deus todos os dias por isso... UM LINDO AMANHECER É O MEU DESEJO


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