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O GLOBO
Dados do Rio Como Vamos mostram que o sexo feminino ainda não conquistou plenamente o mercado de trabalho
No Brasil, uma mulher na Presidência. No estado do Rio de Janeiro, uma mulher na chefia da Polícia Civil. Conquistando aos poucos seu espaço na esfera do poder, embora em clara desvantagem (na Câmara do Rio, por exemplo, são 43 vereadores e apenas oito vereadoras), o sexo feminino ainda se encontra, no mercado de trabalho, em desigualdade em relação ao masculino. Dados do Sistema de Indicadores do Rio Como Vamos (RCV) mostram que, no emprego formal da capital em 2009, o salário médio das trabalhadoras era 13,2% inferior ao dos homens (R$1.871 contra R$2.156). Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, comemorado dia 8 de março, o RCV mostra onde persistem as diferenças e o que ainda precisa melhorar, em termos de políticas públicas, para deixá-las, enquanto mães, donas de casa e profissionais, em condições de fazer suas próprias escolhas na sociedade e na economia do Rio.
A cidade encerrou 2009 com 2,2 milhões de pessoas no emprego formal. Destas, 59,4% eram homens e 40,6%, mulheres, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS/MTE). Nos cargos de direção, elas representavam 38%. No ano passado, 888,5 mil trabalhadores tiveram suas carteiras assinadas, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged/MTE). Mais uma vez, o sexo feminino foi minoria: 37%. Apenas no primeiro emprego os números esboçam certa igualdade: praticamente a metade dos novos trabalhadores a ingressarem no mercado de trabalho é de mulheres.
Elas gastam mais tempo com as tarefas do lar
Os expedientes de trabalho, no entanto, são semelhantes aos dos homens. Elas eram, ainda em 2009, maioria entre os empregados de meio período (até 20 horas semanais), mas também estavam em maior percentual (52%) entre aqueles com carga horária entre 31 e 40 horas trabalhadas por semana. Mas em casa, onde a jornada dupla da mulher persiste, a disparidade é gigantesca. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad/IBGE) de 2009 para a Região Metropolitana do Rio mostram que, quando chefes de família, as mulheres gastam em média 21,2 horas semanais nos trabalhos da casa. Como companheira do chefe da família, as horas sobem para 23,31. Já os homens passam apenas 5,63 horas semanais em serviços da casa.
- O mercado de trabalho mudou com a entrada maciça das mulheres, mas a organização da vida privada, não. Aí reside a maior desigualdade entre homens e mulheres. O mundo do trabalho tem que descobrir que a vida privada existe e se organizar liberando tempo para homens e mulheres. Enquanto a discussão sobre o uso do tempo não avança entre empregadores e empregados, partilhar as responsabilidades familiares é fundamental para que as mulheres possam trabalhar em igualdade de condições com os homens. Mas na verdade trata-se de uma questão pública e não só privada - avalia a presidente executiva do Rio Como Vamos, Rosiska Darcy de Oliveira.
A socióloga Baiena Feijolo Souto, de 31 anos, sabe como uma boa estrutura de serviços e a parceria do companheiro fazem a diferença para a realização profissional da mulher. Mãe de dois meninos de 11 e 14 anos e de uma menina de 2, ela deixa a caçula na creche às 8h e parte para o emprego. Cabe ao marido, engenheiro, buscar a pequena, às 18h. Facilita a vida desta trabalhadora o fato de a família morar em Laranjeiras, bairro em que tem por perto escolas e outras instituições onde os garotos podem fazer atividades ao longo do dia, enquanto os pais estão fora. Em casa, embora tenha empregada e conte com a ajuda do marido, na divisão das obrigações do lar, a socióloga não escapa de algum serviço doméstico.
Se Baiena, que conta com uma estrutura de serviços favorável no bairro onde mora e pode sair para trabalhar com tranquilidade, sabendo que as crianças estão em segurança, o mesmo não acontece com aquelas mães que dependem de creches públicas para seus filhos, mas não conseguem vagas. Na rede municipal do Rio, 33.961 crianças são atendidas em creches públicas ou conveniadas. No início de 2009, esse número era ainda menor, cerca de 28 mil. O total de atendidos hoje não chega sequer à metade dos 68.203 matriculados na etapa seguinte da educação infantil, a pré-escola. Ou seja, persistindo esta média de matrículas na pré-escola para o próximo ano, a metade dos pequenos alunos chegaria a esta fase sem ter passado antes por uma creche. A meta do Plano Estratégico da prefeitura é chegar a 2012 com cerca de 60 mil vagas em creches, 30 mil delas abertas a partir de 2009. Para a presidente do RCV, é primordial que esta meta seja cumprida rigorosamente:
- Não existe mercado de trabalho feminino democrático sem creche e escola. Nenhuma mulher trabalha tranquila sem saber como estão seus filhos. Os homens sempre tiveram a tranquilidade de saber que eles estavam com as mães. Quando as crianças não estão com elas, estão com quem? Na rua? A política de enquadramento educacional da primeira infância e da juventude é primordial para as mulheres.
Transposto do site http://www.feminismo.org.br/livre/
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